Algumas fotos de cavalos de frisa
Some photos of Chevau de frise
Stone walls and chevaux-de-frise at the hillfort of Las Cogotas (Ávila) (Photo: A.J. Lorrio).
In/Em
The Celts in Iberia: An Overview
Alberto J. Lorrio, Universidad de Alicante Gonzalo Ruiz Zapatero, Universidad Complutense de Madrid
E-Keltoi -Journal of Interdisciplinary Celtic Studies - Volume 6 - The Celts in the Iberian Peninsula
In/Em
The Celts in Iberia: An Overview
Alberto J. Lorrio, Universidad de Alicante Gonzalo Ruiz Zapatero, Universidad Complutense de Madrid
E-Keltoi -Journal of Interdisciplinary Celtic Studies - Volume 6 - The Celts in the Iberian Peninsula
Band of stone chevaux-de-frise in the hillfort of Passo Alto, Alentejo, Portugal. (Photo A. M. Soares.)
In/Em
The Celts of the Southwestern Iberian Peninsula
Luis Berrocal-Rangel, Departamento de Prehistoria y Arqueología, Universidad Autónoma de Madrid
E-Keltoi -Journal of Interdisciplinary Celtic Studies - Volume 6 - The Celts in the Iberian Peninsula
The Celts of the Southwestern Iberian Peninsula
Luis Berrocal-Rangel, Departamento de Prehistoria y Arqueología, Universidad Autónoma de Madrid
E-Keltoi -Journal of Interdisciplinary Celtic Studies - Volume 6 - The Celts in the Iberian Peninsula
Dún Aengus, County Galway
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In/Em Wikipedia
French: Cheval de frise means "Frisian horse". The Frisians, having little cavalry of their own, relied heavily on such anti-cavalry obstacles. The term also came to be used for any spiked obstacle, such as broken glass embedded in mortar on the top of a wall.
Les chevaux de Frise sont un type de barrière utilisée depuis le Moyen Âge. Si l'origine du nom reste incertaine, ils semblent l'avoir reçu pendant la guerre de Quatre-Vingts Ans, ou révolte des Pays-Bas. C'est avec eux que les assiégés de la ville de Groningue, très proche de la Frise, réussirent à contrer les assauts de la cavalerie espagnole (le nom donné en allemand ou dans les langues scandinaves aux chevaux de frise est d'ailleurs cavaliers espagnols).
Nunes (2005, p. 84) define cavalos de frisa como: "Obstáculo com a forma de uma estrutura cilíndrica ou octavada atravessada por estacas aguçadas, usado para impedir passagens.".
NUNES, António Lopes Pires (2005) – Dicionário de arquitectura militar. Vale de Cambra: Caleidoscópio.
Harding (2003, p. 300) descreve a inovação técnica encontrada na fortificação de Dún Aonghasa na República da Irlanda: "…Fuera de los muros hay una extensa zona de chevaux de frise o campos frísios (piedras angulares aguladas hincadas), interpretados por lo general como un médio para impedir el ataque a caballo".
HARDING, A. F. (2003) – Sociedades Europeas en la edad del Bronce. Barcelona: Editorial Barcelona. 1.ª Edición.
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SOARES, António M. Monge (2000) – O Passo Alto: uma fortificação única do Bronze Final do Sudoeste. Revista Portuguesa de Arqueologia. Lisboa: Instituto Português da Arqueologia. 5: 2, p. 293-312.
Abstract
Prospecções superficiais e escavações arqueológicas no povoado do Passo Alto (Vila Verde de Ficalho, Serpa) permitiram atribuir uma cronologia segura à única ocupação deste povoado, bem como possibilitaram uma caracterização do sistema defensivo construído no mesmo. O povoado, situado na confluência de dois ribeiros, é constituído por dois núcleos, separados por cerca de 250 metros sem quaisquer vestígios arqueológicos. Os artefactos arqueológicos encontrados, de que se destaca a cerâmica de ornatos brunidos, levam a atribuir-lhe uma cronologia dentro do Bronze Final. As boas condições naturais de defesa são complementadas por uma muralha na zona de mais fácil acesso ao povoado. Esta é feita de terra calcada com pequenas pedras, a que se devia sobrepor uma parte em pedra. Adossada à face interna da muralha existe uma possível plataforma construída com terra calcada, tal como aquela. Um campo de cavalos de frisa no exterior da muralha constitui uma linha de defesa adicional junto da possível entrada e torna este sistema defensivo, com esta cronologia, único no Sudoeste.. Archaeological surveys and excavations carried out at the settlement of Passo Alto (Vila Verde de Ficalho, Serpa, Portugal) allowed to assign its only phase of occupation to the Late Bronze Age and, at the same time, to investigate and to characterize the built defensive complex. The settlement is located at the confluence of two rivers and it is formed by two loci 250 m apart. The finds, namely pattern-burnished pottery, indicate a Late Bronze Age chronology for the Passo Alto. The good natural defences of the settlement are complemented with a rampart on the easiest approach to the site. This feature is an earthen wall, also built possibly with stones in its upper part, and with an earthen platform placed against its inner side. Outside the rampart, a broad band of chevaux de frise provides an additional line of defence on the approach to the possible entrance. This defensive complex with a Late Bronze Age chronology is unique in the Southwest of the Iberian Peninsula.
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Na área plana de mais fácil acesso ao povoado, muito próximo da muralha mas no seu exterior, encontra-se um numeroso conjunto de blocos de xisto de forma mais ou menos prismática ou tabular alongada, muitos deles ainda in situ, fincados no solo, erectos, com uma altura de cerca de meio metro a um metro. Poderá, assim, deduzir-se que no povoado do Passo Alto existia um complexo defensivo,
constituído por uma muralha e por uma faixa de cavalos de frisa, na área de mais fácil acesso,que protegiam, na sua vizinhança imediata, estruturas eventualmente metalúrgicas (de que os blocos de rocha vitrificada serão indício) e, mais longe, a duas ou três centenas de metros, a zona habitacional, protegida também pelas margens abruptas do Chança e do Vidigão.
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Neste polimorfismo de habitats e de sistemas defensivos (na sucessão, aliás, do polimorfismo que apresentam as necrópoles do Bronze Inicial e Pleno do Sudoeste), destaca-se a utilização de cavalos de frisa no Passo Alto. Este tipo de sistema complementar de defesa é conhecido dos povoados das zonas montanhosas que bordejam a Meseta ibérica, sendo aí datável da Idade do Ferro, do século VI a.C. ou de momentos posteriores, podendo atingir o período republicano. Segundo Harbison (1968) a finalidade destas pedras fincadas “was not only to impede enemy cavalry, but also to render the attacking foot-soldier more vulnerable by forcing him to chamber over these stones before he could reach the walls”. Na realidade, em vários casos assim poderá ser, embora em muitos outros seja difícil admitir o seu uso contra a cavalaria. É o que acontece, por exemplo, quando os cavalos de frisa se implantam entre os fossos, como é o caso do Castro de Carvalhelhos (Santos Júnior, 1957), uma vez que a cavalaria já estava impedida de atingir as posições onde eles se encontram devido, precisamente, à existência desses fossos profundos. De igual modo, é difícil de imaginar que manobras de cavalaria os cavalos de frisa do Passo Alto impediriam, dada a sua posição junto à muralha, no estreito corredor quase planoque lhe dava acesso. No Sudoeste peninsular são conhecidos mais quatro povoados que apresentam este sistema de defesa — o Castillo de las Peñas, na serra de Aroche, Huelva (Toscano, 1997; Pérez Macías et al., 1997; Berrocal-Rangel, 2003), o Castrejón de Capote (Berrocal-Rangel, 1992, 2003), o Castro de Batalla del Pedruégano (Berrocal-Rangel, 1999, 2003) e o povoado de Reina (Berrocal-Rangel,2003). Enquanto estes três últimos, situados na província de Badajoz, têm uma primeira ocupação que é pré-romana, mas correspondente à II Idade do Ferro, e à qual podem ser atribuídos os cavalos de frisa aí existentes, já o Castillo de las Peñas sofreu várias ocupações, desde a Pré-história até à Idade Média, entre elas uma do Bronze Final. Os povoados desta época na serra de Aroche apresentam uma cultura material com grande similitude à da dos povoados alentejanos da mesma altura (Pérez Macías, 1996) e seria muito interessante um eventual paralelismo cronológico entre os cavalos de frisa do Passo Alto e os do Castillo de las Peñas. Contudo, este último é um povoado de altura, aparentemente sem muralhas, e possivelmente o único da serra de Aroche onde existe uma ocupação sem solução de continuidade entre o Bronze Final e a Época Romana, talvez devido à fertilidade das suas imediações, propiciada pela água abundante aí existente (Toscano, 1997, p. 149). A cronologia do campo de cavalos de frisa do Castillo de las Peñas continua,assim, uma questão em aberto e possivelmente nunca será possível datá-lo de um modo fiável. Além destes povoados do Sudoeste e dos cerca de quarenta conhecidos na área envolvente da Meseta com cavalos de frisa de cronologias dentro da Idade do Ferro ou até mais recentes,existe na Península Ibérica um outro povoado fortificado, o de Els Vilars de Arbeca, na Catalunha, também com cavalos de frisa, o que constitui uma característica única para o Nordeste peninsular. A construção do seu sistema defensivo — muralha com torres, fosso e barreira de cavalos de frisa — foi datada pelo radiocarbono entre 800/775 – 700/675 cal BC, encontrando-se o fosso e os cavalos de frisa já colmatados por terra no século VI/V a.C. (Alonso et al., 2000),isto é, quando começam a surgir nas outras áreas da Península Ibérica a maior parte dos sistemas defensivos que utilizam as pedras fincadas.
Num esquema difusionista em voga nos anos sessenta (Harbison, 1968) os campos de cavalos de frisa mais antigos, e que utilizariam a madeira em vez da pedra, seriam os centro-europeus,donde se difundiriam para sul e oeste, passando a utilizar a pedra em vez da madeira. Na Península Ibérica seriam tanto mais recentes quanto mais a ocidente se situassem os castros. No entanto,este esquema difusionista falha em vários pontos (Estallo e Sánchez, 1989). Em França, são raríssimas as barreiras de cavalos de frisa. O único povoado conhecido que utiliza este sistema defensivo em pedra, o povoado de Pech Maho, tem uma primeira ocupação a qual é muito mais recente que a correspondente à da erecção de muitas das barreiras de cavalos de frisa existentes nos povoados da Meseta. Por outro lado, os cavalos de frisa aparecem também na Irlanda, no País de Gales e na Escócia, sendo-lhes atribuída geralmente uma datação dentro da Idade do Ferro. Noentanto,escavações recentes nas ilhas Aran (Irlanda), no povoado fortificado de Dún Aonghasa, permitiram atribuir ao campo de cavalos de frisa aí existente uma datação dentro do Bronze Final ou, quando muito, na transição do Bronze Final para a Idade do Ferro (Cotter, 1995).
Por outro lado, e regressando ao Sudoeste Peninsular, segundo Pérez Macías (1996), uma análise do povoamento no primeiro quartel do primeiro milénio a.C. permite verificar que, a partir do século VIII, se observa no Alentejo, na serra de Huelva e na província de Badajoz uma descida brusca do número de povoados. Ainda que alguns deles continuem no período orientalizante, a maior parte destes são também abandonados, podendo o momento de abandono atingir, nestes casos e quando muito, o século VII a.C. Tirando algumas (poucas) excepções, como Medellín, o Alto do Castelinho da Serra ou o Castillo de las Peñas, não se encontra qualquer evidência firme de povoamento após aquela data até ao aparecimento, em meados do século V a.C., de outras populações, os célticos do Sudoeste, sem precedentes na Idade do Bronze desta área. Também nos onze povoados do Bronze Final da margem esquerda do Guadiana indicados na Fig. 19 se verifica o seu abandono anteriormente ao aparecimento de quaisquer manifestações atribuíveis à Idade do Ferro. Mesmo o povoado da Misericórdia (Soares, 1996), onde além de uma ocupação atribuível ao Bronze Final, é reconhecível uma outra imputável à II Idade do Ferro, deverá existir um hiato entre elas. No povoado do Passo Alto não foi encontrado até hoje, quer em prospecção de superfície quer em escavação, qualquer artefacto atribuível ao período orientalizante e, muito menos, à II Idade do Ferro. A admitir-se uma data posterior ao século VIII a.C. para a construção do campo de cavalos de frisa do Passo Alto seria muito estranho que os seus autores não tivessem deixado quaisquer vestígios a não ser os próprios cavalos de frisa...
O possível significado das pedras vitrificadas que se observam no povoado do Passo Alto foi já objecto de discussão quando da publicação preliminar dos resultados obtidos em 1984(Soares, 1988, p. 97). A intervenção de 1987 e novos dados entretanto conhecidos para o povoado da Misericórdia e para outros povoados do Alentejo contribuíram com algumas achegas para uma maior aproximação ao problema. Anteriormente às escavações no Passo Alto, duas explicações surgiam para a ocorrência das pedras vitrificadas neste povoado, designadamente i) a de que resultariam da ruína e derrube da muralha, que teria de ser constituída também por material lenhoso, o qual ao sofrer uma combustão originaria a vitrificação dos xistos ou ii) a de que seriam originadas por actividades pirotécnicas, muito possivelmente metalúrgicas, levadas a efeito no local. No primeiro caso estaríamos perante restos de uma muralha vitrificada, tal como ocorre, por vezes, nas Ilhas Britânicas em povoados da Idade do Ferro (os “vitrified forts”)ou, mais perto de nós, nos Castelos de Monte Novo (Évora), um grande povoado também da Idade do Ferro que apresenta alguns troços de muralha vitrificada (Gibson et al., 1998, p. 211). No Passo Alto não é esse o caso. A relação das pedras vitrificadas, existentes numa zona bem delimitada, com a muralha é apenas a de proximidade, não apresentando os blocos de xisto atribuíveis ao derrube da muralha qualquer vestígio da acção do fogo, além de que, na base da muralha de terra, se podem observar pequenos fragmentos soltos de rocha vitrificada. Este facto interpreta-se como indicando que as actividades que deram origem à vitrificação das pedras seriam anteriores à construção do sistema defensivo. Note-se, no entanto, que não se dispõe de quaisquer dados que permitam ter uma ideia da dimensão dessa anterioridade. Por outro lado,materiais vitrificados de aspecto em tudo semelhante ao observado no Passo Alto — porosos,muito leves, de cores muito variáveis mas geralmente escuras, muitas vezes com a textura origi- nal dos xistos reconhecível — foram encontrados no povoado da Misericórdia em estreita relação com diversas fornalhas aí existentes (Soares, 1996). Também na zona de Odemira, freguesia de São Martinho das Amoreiras, no Cerro das Alminhas, um povoado do Bronze Final, foram encontrados, numa área limitada, em estreita ligação com uma estrutura de funcionalidade ainda desconhecida, mas possivelmente metalúrgica, materiais vitrificados em tudo semelhantes aos do Passo Alto e da Misericórdia (Jorge Vilhena, com. pessoal). A explicação mais plausível para estas estruturas é a de que estejam relacionadas com actividades metalúrgicas, embora a ausência de verdadeiras escórias seja estranha e difícil de interpretar.
Tendo em atenção tudo o que atrás foi referido, poder-se-á afirmar que toda a cultura material revelada pelas intervenções no povoado do Passo Alto, incluindo não só os artefactos mas também o sistema defensivo e as actividades metalúrgicas (?) que aí se desenvolveram, é compatível com uma cronologia do Bronze Final do Sudoeste, nele se integrando plenamente. Se o início do povoado se coloca no século X ou no IX é uma questão em aberto, já a data do seu abandono não deverá ultrapassar os inícios do século VIII a.C., dada a ausência de quaisquer materiais orientalizantes. Deverá, por conseguinte, ter sido um povoado com uma ocupação curta, o que parece ser comprovado pela escassez de artefactos recolhidos em prospecção superficial e, principalmente, em escavação, e pela sua homogeneidade. O campo de cavalos de frisa do Passo Alto, paralelizável cronologicamente com o de Els Vilars, integra-se consequentemente nas primeiras manifestações conhecidas deste tipo de sistema defensivo.
Neste polimorfismo de habitats e de sistemas defensivos (na sucessão, aliás, do polimorfismo que apresentam as necrópoles do Bronze Inicial e Pleno do Sudoeste), destaca-se a utilização de cavalos de frisa no Passo Alto. Este tipo de sistema complementar de defesa é conhecido dos povoados das zonas montanhosas que bordejam a Meseta ibérica, sendo aí datável da Idade do Ferro, do século VI a.C. ou de momentos posteriores, podendo atingir o período republicano. Segundo Harbison (1968) a finalidade destas pedras fincadas “was not only to impede enemy cavalry, but also to render the attacking foot-soldier more vulnerable by forcing him to chamber over these stones before he could reach the walls”. Na realidade, em vários casos assim poderá ser, embora em muitos outros seja difícil admitir o seu uso contra a cavalaria. É o que acontece, por exemplo, quando os cavalos de frisa se implantam entre os fossos, como é o caso do Castro de Carvalhelhos (Santos Júnior, 1957), uma vez que a cavalaria já estava impedida de atingir as posições onde eles se encontram devido, precisamente, à existência desses fossos profundos. De igual modo, é difícil de imaginar que manobras de cavalaria os cavalos de frisa do Passo Alto impediriam, dada a sua posição junto à muralha, no estreito corredor quase planoque lhe dava acesso. No Sudoeste peninsular são conhecidos mais quatro povoados que apresentam este sistema de defesa — o Castillo de las Peñas, na serra de Aroche, Huelva (Toscano, 1997; Pérez Macías et al., 1997; Berrocal-Rangel, 2003), o Castrejón de Capote (Berrocal-Rangel, 1992, 2003), o Castro de Batalla del Pedruégano (Berrocal-Rangel, 1999, 2003) e o povoado de Reina (Berrocal-Rangel,2003). Enquanto estes três últimos, situados na província de Badajoz, têm uma primeira ocupação que é pré-romana, mas correspondente à II Idade do Ferro, e à qual podem ser atribuídos os cavalos de frisa aí existentes, já o Castillo de las Peñas sofreu várias ocupações, desde a Pré-história até à Idade Média, entre elas uma do Bronze Final. Os povoados desta época na serra de Aroche apresentam uma cultura material com grande similitude à da dos povoados alentejanos da mesma altura (Pérez Macías, 1996) e seria muito interessante um eventual paralelismo cronológico entre os cavalos de frisa do Passo Alto e os do Castillo de las Peñas. Contudo, este último é um povoado de altura, aparentemente sem muralhas, e possivelmente o único da serra de Aroche onde existe uma ocupação sem solução de continuidade entre o Bronze Final e a Época Romana, talvez devido à fertilidade das suas imediações, propiciada pela água abundante aí existente (Toscano, 1997, p. 149). A cronologia do campo de cavalos de frisa do Castillo de las Peñas continua,assim, uma questão em aberto e possivelmente nunca será possível datá-lo de um modo fiável. Além destes povoados do Sudoeste e dos cerca de quarenta conhecidos na área envolvente da Meseta com cavalos de frisa de cronologias dentro da Idade do Ferro ou até mais recentes,existe na Península Ibérica um outro povoado fortificado, o de Els Vilars de Arbeca, na Catalunha, também com cavalos de frisa, o que constitui uma característica única para o Nordeste peninsular. A construção do seu sistema defensivo — muralha com torres, fosso e barreira de cavalos de frisa — foi datada pelo radiocarbono entre 800/775 – 700/675 cal BC, encontrando-se o fosso e os cavalos de frisa já colmatados por terra no século VI/V a.C. (Alonso et al., 2000),isto é, quando começam a surgir nas outras áreas da Península Ibérica a maior parte dos sistemas defensivos que utilizam as pedras fincadas.
Num esquema difusionista em voga nos anos sessenta (Harbison, 1968) os campos de cavalos de frisa mais antigos, e que utilizariam a madeira em vez da pedra, seriam os centro-europeus,donde se difundiriam para sul e oeste, passando a utilizar a pedra em vez da madeira. Na Península Ibérica seriam tanto mais recentes quanto mais a ocidente se situassem os castros. No entanto,este esquema difusionista falha em vários pontos (Estallo e Sánchez, 1989). Em França, são raríssimas as barreiras de cavalos de frisa. O único povoado conhecido que utiliza este sistema defensivo em pedra, o povoado de Pech Maho, tem uma primeira ocupação a qual é muito mais recente que a correspondente à da erecção de muitas das barreiras de cavalos de frisa existentes nos povoados da Meseta. Por outro lado, os cavalos de frisa aparecem também na Irlanda, no País de Gales e na Escócia, sendo-lhes atribuída geralmente uma datação dentro da Idade do Ferro. Noentanto,escavações recentes nas ilhas Aran (Irlanda), no povoado fortificado de Dún Aonghasa, permitiram atribuir ao campo de cavalos de frisa aí existente uma datação dentro do Bronze Final ou, quando muito, na transição do Bronze Final para a Idade do Ferro (Cotter, 1995).
Por outro lado, e regressando ao Sudoeste Peninsular, segundo Pérez Macías (1996), uma análise do povoamento no primeiro quartel do primeiro milénio a.C. permite verificar que, a partir do século VIII, se observa no Alentejo, na serra de Huelva e na província de Badajoz uma descida brusca do número de povoados. Ainda que alguns deles continuem no período orientalizante, a maior parte destes são também abandonados, podendo o momento de abandono atingir, nestes casos e quando muito, o século VII a.C. Tirando algumas (poucas) excepções, como Medellín, o Alto do Castelinho da Serra ou o Castillo de las Peñas, não se encontra qualquer evidência firme de povoamento após aquela data até ao aparecimento, em meados do século V a.C., de outras populações, os célticos do Sudoeste, sem precedentes na Idade do Bronze desta área. Também nos onze povoados do Bronze Final da margem esquerda do Guadiana indicados na Fig. 19 se verifica o seu abandono anteriormente ao aparecimento de quaisquer manifestações atribuíveis à Idade do Ferro. Mesmo o povoado da Misericórdia (Soares, 1996), onde além de uma ocupação atribuível ao Bronze Final, é reconhecível uma outra imputável à II Idade do Ferro, deverá existir um hiato entre elas. No povoado do Passo Alto não foi encontrado até hoje, quer em prospecção de superfície quer em escavação, qualquer artefacto atribuível ao período orientalizante e, muito menos, à II Idade do Ferro. A admitir-se uma data posterior ao século VIII a.C. para a construção do campo de cavalos de frisa do Passo Alto seria muito estranho que os seus autores não tivessem deixado quaisquer vestígios a não ser os próprios cavalos de frisa...
O possível significado das pedras vitrificadas que se observam no povoado do Passo Alto foi já objecto de discussão quando da publicação preliminar dos resultados obtidos em 1984(Soares, 1988, p. 97). A intervenção de 1987 e novos dados entretanto conhecidos para o povoado da Misericórdia e para outros povoados do Alentejo contribuíram com algumas achegas para uma maior aproximação ao problema. Anteriormente às escavações no Passo Alto, duas explicações surgiam para a ocorrência das pedras vitrificadas neste povoado, designadamente i) a de que resultariam da ruína e derrube da muralha, que teria de ser constituída também por material lenhoso, o qual ao sofrer uma combustão originaria a vitrificação dos xistos ou ii) a de que seriam originadas por actividades pirotécnicas, muito possivelmente metalúrgicas, levadas a efeito no local. No primeiro caso estaríamos perante restos de uma muralha vitrificada, tal como ocorre, por vezes, nas Ilhas Britânicas em povoados da Idade do Ferro (os “vitrified forts”)ou, mais perto de nós, nos Castelos de Monte Novo (Évora), um grande povoado também da Idade do Ferro que apresenta alguns troços de muralha vitrificada (Gibson et al., 1998, p. 211). No Passo Alto não é esse o caso. A relação das pedras vitrificadas, existentes numa zona bem delimitada, com a muralha é apenas a de proximidade, não apresentando os blocos de xisto atribuíveis ao derrube da muralha qualquer vestígio da acção do fogo, além de que, na base da muralha de terra, se podem observar pequenos fragmentos soltos de rocha vitrificada. Este facto interpreta-se como indicando que as actividades que deram origem à vitrificação das pedras seriam anteriores à construção do sistema defensivo. Note-se, no entanto, que não se dispõe de quaisquer dados que permitam ter uma ideia da dimensão dessa anterioridade. Por outro lado,materiais vitrificados de aspecto em tudo semelhante ao observado no Passo Alto — porosos,muito leves, de cores muito variáveis mas geralmente escuras, muitas vezes com a textura origi- nal dos xistos reconhecível — foram encontrados no povoado da Misericórdia em estreita relação com diversas fornalhas aí existentes (Soares, 1996). Também na zona de Odemira, freguesia de São Martinho das Amoreiras, no Cerro das Alminhas, um povoado do Bronze Final, foram encontrados, numa área limitada, em estreita ligação com uma estrutura de funcionalidade ainda desconhecida, mas possivelmente metalúrgica, materiais vitrificados em tudo semelhantes aos do Passo Alto e da Misericórdia (Jorge Vilhena, com. pessoal). A explicação mais plausível para estas estruturas é a de que estejam relacionadas com actividades metalúrgicas, embora a ausência de verdadeiras escórias seja estranha e difícil de interpretar.
Tendo em atenção tudo o que atrás foi referido, poder-se-á afirmar que toda a cultura material revelada pelas intervenções no povoado do Passo Alto, incluindo não só os artefactos mas também o sistema defensivo e as actividades metalúrgicas (?) que aí se desenvolveram, é compatível com uma cronologia do Bronze Final do Sudoeste, nele se integrando plenamente. Se o início do povoado se coloca no século X ou no IX é uma questão em aberto, já a data do seu abandono não deverá ultrapassar os inícios do século VIII a.C., dada a ausência de quaisquer materiais orientalizantes. Deverá, por conseguinte, ter sido um povoado com uma ocupação curta, o que parece ser comprovado pela escassez de artefactos recolhidos em prospecção superficial e, principalmente, em escavação, e pela sua homogeneidade. O campo de cavalos de frisa do Passo Alto, paralelizável cronologicamente com o de Els Vilars, integra-se consequentemente nas primeiras manifestações conhecidas deste tipo de sistema defensivo.
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Nota: só estão reproduzidas as partes do texto que discutem os cavalos de frisa
Nota: só estão reproduzidas as partes do texto que discutem os cavalos de frisa