Os líderes e principalmente os seus feitos militares são o primeiro registo que temos da guerra, neste registo temos apenas factos empolados e datas relativas. O que aconteceu confunde-se com o propósito para o qual foi feito o registo. Temos inscrições em monumentos da Mesopotâmia e do Egipto do III milénio a.C., poemas sobre guerreiros como a Epopeia de Gilgamesh e Gilgamesh e Akka, ou um rol de Reis e guerras como Lista dos Reis Sumérios. Podemos determinar apenas algumas das causas, de uma forma superficial e indirecta, sempre disfarçadas por desígnios divinos..
Na Ásia, pelo séc. II a. C., o estado tenta subordinar e organizar a guerra, nascem tratados que explicam todos os aspectos de como fazer a guerra, procuram também justificar esta de um modo simples, explicativo e mesmo didáctico. Alguns destes tratados são Os Métodos de Ssu-ma, As Três estratégias de Huang Shih-Kung ou Os Métodos Militares de Sun Pi. O mais conhecido é A Arte da Guerra de Sun Tzu e as suas teorias podem remontar ao séc. V a.C.
No mundo oOcidental temos os primeiros relatos, guerras, batalhas e heróis nos poemas Homéricos (VII a. C.) a Ilíada e a Odisseia. Nestas histórias aparecem alguns movimentos estratégicos e as suas razões, mas a guerra de Homero são mais duelos de heróis e dilemas éticos. A maior parte dos relatos dos clássicos, helénicos e romanos, descrevem uma guerra de líderes e exércitos, as causas são já determinadas mas mais como justificação das acções e sem uma análise profunda. Ao contrário dos chineses, os autores clássicos, com raras excepções, não comandavam tropas ao alto nível.
Temos várias obras gerais que usam a guerra como fio condutor, Heródoto usa as guerras médicas, Polibio (Historias, séc. II a.C.) usa as expansão romana, Xenofonte (Cyropaedia) as guerras do séc.IV a.C., Tucídides as guerras do Peloponeso. Este último autor chega a fazer a distinção entre causas profundas e superficiais:. "Na natureza humana encontramos três causas principais de conflito: a competição, a desconfiança e a glória. Na primeira o Homem invade por ganho, na segunda por segurança e na terceira por reputação." (Tucídides).
Na Ásia, pelo séc. II a. C., o estado tenta subordinar e organizar a guerra, nascem tratados que explicam todos os aspectos de como fazer a guerra, procuram também justificar esta de um modo simples, explicativo e mesmo didáctico. Alguns destes tratados são Os Métodos de Ssu-ma, As Três estratégias de Huang Shih-Kung ou Os Métodos Militares de Sun Pi. O mais conhecido é A Arte da Guerra de Sun Tzu e as suas teorias podem remontar ao séc. V a.C.
No mundo oOcidental temos os primeiros relatos, guerras, batalhas e heróis nos poemas Homéricos (VII a. C.) a Ilíada e a Odisseia. Nestas histórias aparecem alguns movimentos estratégicos e as suas razões, mas a guerra de Homero são mais duelos de heróis e dilemas éticos. A maior parte dos relatos dos clássicos, helénicos e romanos, descrevem uma guerra de líderes e exércitos, as causas são já determinadas mas mais como justificação das acções e sem uma análise profunda. Ao contrário dos chineses, os autores clássicos, com raras excepções, não comandavam tropas ao alto nível.
Temos várias obras gerais que usam a guerra como fio condutor, Heródoto usa as guerras médicas, Polibio (Historias, séc. II a.C.) usa as expansão romana, Xenofonte (Cyropaedia) as guerras do séc.IV a.C., Tucídides as guerras do Peloponeso. Este último autor chega a fazer a distinção entre causas profundas e superficiais:. "Na natureza humana encontramos três causas principais de conflito: a competição, a desconfiança e a glória. Na primeira o Homem invade por ganho, na segunda por segurança e na terceira por reputação." (Tucídides).
Para a Península Ibérica temos ainda autores como Tito Lívio (História de Roma desde a sua fundação, séc. I d.C.), Apiano (Historia Romana, séc. II d.C.), Diadoro (Biblioteca Histórica) e Estrabão (Geografia e Memórias Histórica, séc. I d.C.). O primeiro dos autores clássicos a escrever especificamente sobre a guerra foi Aenas (Tacticus, séc. IV d.C,) e o último Vegetius (Epitoma Rei Militaris, séc. III d.C.).
No mundo clássico a guerra nunca foi tema de um tratado de Filosofia. As descrições e teorias de guerra variam o que denota maneiras diferentes de guerrear consoante o povo e uma evolução ao longo do tempo. Se por um lado a maior parte dos autores considerava a guerra de estados civilizados como a continuação da guerra dos selvagens, outros como Ovídeo e Seneca, pensavam que o estado primitivo e natural do Homem é a paz e que a guerra era consequência do aparecimento da propriedade e desigualdade.
Na Idade Média recuperam-se as obras de Vegetius e de Frontinus (Estrategemata, séc. I d. C.), o facto de serem escritas em lLatim vem ajudar na sua divulgação. As obras do Império Bizantino também têm o seu peso como o Strategikon (séc. VI d. C.) e o Tacticon, (séc. IX d. C.), escritos por vários autores desconhecidos. As obras Bizantinas seguem a corrente dos clássicos, são descritivas e didácticas, o Strategikon tem um capítulo interessante onde o autor, aqui descreve as características de potenciais povos inimigos e a melhor maneira de enfrentá-los. As obras mais divulgadas na Idade Média são Chansons de Geste como La chanson de Roland (séc. XII) canções que narram os feitos de heróis (lenda e romântico), enfim um retrocesso na literatura militar. Mais tarde temos Bonet e L’abre de batailles (séc. XV) que coloca uma série de questões práticas e respostas sobre as lides militares.
Maquiavel com o seu Il Principe e L’Arte della Guerra (séc. XVI) tem um papel na definição do pensamento estratégico, no entantomas não são obras-primas ao nível militar, não distinguindo sequer táctica de estratégia. Outras obras deste período, como a de Montecuccoli, Tratado sobre a guerra (1680) e a do Marquês de Folard (1720) são igualmente fracas e baseadas nos clássicos. Grandes líderes militares desta época escreveram obras de carácter militar que não se tornaram obras-primas, menciono apenas Frederico o Grande que escreveu bastante.
Clausewitz na sua obra prima Da guerra (1832) tira à guerra a dimensão prática e formatada que tinha até então, para ele temos um grande drama apaixonado, existem muitas incertezas e uma tendência para o escalonar de situações, a guerra é antes demais um acto de violência. Este autor funde correntes militares anteriores e herda já a separação entre estratégia e táctica. A, a obra de Clausewitz mostra a natureza da guerra e como podemos usá-la, torna-se um trabalho que tem ainda hoje razão de ser. Temos uma filosofia de guerra que só tem comparação com os clássicos chineses.
No séc. XVII começam a germinar as teorias que hoje são a base de alguns debates. Estas teorias nascem principalmente entre filósofos e temos três paradigmas da relação da natureza humana com a guerra: o dualismo entre razão e paixão, o pecado original e a divina vingança de Santo Agostinho, o Homem racional destinado a lutar eternamente por alguma razão metafíisica.
O filósofo Hobbes com o seu Leviathan (1651) acredita numa sociedade primitiva violenta, e o estado de guerra como sendo o estado natural do homem (bellum omnium contra omnex). Este autor baseia-se nos clássicos e é o primeiro autor moderno a analisar a função da guerra e a formular uma teoria sobre o assunto. É o criador da Escola Naturalista sendo o primeiro a formular a pergunta se o nosso estado natural é o da guerra. Conclui que a guerra é parte da natureza humana e tem como função interna a solidariedade e como função externa de manter o equilíbrio de poderes. Para ele a guerra tem como causa a competição, a desconfiança, a glória e o poder (Tucídides reciclado). Vai usar dados etnográficos na análise dos índios americanos. As suas teorias estão na moda nos sécs. XVII e XVIII.
O filósofo Montesquieu com L’Esprit dês Lois (1748) transforma a idílica idade da paz numa idade histórica, mas pensa que o aparecimento da sociedade civil foi um melhoramento e sanciona as guerras justas, a guerra como criação de estados.
Rousseau, também filósofo, escreve Le Contract Social (1762), baseia-se em alguns autores clássicos (Ovídeo e Séneca) e apoia-se em Montesquieu. Com ele nasce a ideia de "Nobre Selvagem", uma sociedade primitiva onde não existia guerra porque simplesmente não havia necessidade, temos então a Escola de Aprendizagem cultural. Este autor procura as origens a não a função da guerra, renega qualquer papel da guerra na sociedade, guerra não faz parte da natureza do Homem e foi inventada pelos estados para as funções de solidariedade e manutenção do equilíbrio de poderes.
Ferguson com a sua obra History Of Civil Society (1767) tem o primeiro estudo empírico das origens da guerra, com base em dados etnográficos de vários missionários., Eeste autor não crê no nobre selvagem encontra mesmo uma função positiva na guerra, vai dar à guerra a função interna de Hobbes e a externa de manter a solidariedade cívica e a moral, ideia partilhada pelos autores clássicos principalmente os romanos, este considerando o que mais tarde será chamado de Etnocentrismo.
No séc. XVIII a questão da guerra não estava polarizada, alguns pensadores viam uma certa evolução na História humana e um papel para a guerra, formulam-se teorias de progresso que por vezes destacam a guerra.
Malthus escreve Essay On Population (1789), a guerra ganha uma dimensão cósmica que foge ao controlo do Homem, a guerra é a forma de Deus e da Natureza controlarem as populações humanas, esta teoria tem as suas bases clássicas nos Estóicos.
Spencer (1850) conclui que o crescimento da população produz tensões entre sociedades, a guerra resolve essas tensões, é o agente de evolução e de um progresso para melhor, é a sobrevivência do mais apto, o progresso leva uma sociedade de egoístas selvagens a uma de altruístas civilizados, e por fim a guerra torna-se obsoleta.
O biólogo Darwin escreve The Origin Of Espécies (1859) e Descent Of Man onde formula as suas teorias de evolução e da sobrevivência do mais apto. Para este autor a guerra está na natureza humana devido ao nosso passado animal. Darwin pensa que a guerra foi um agente na evolução humana e diz: "…se duas tribos competem a mais unida e pronta a lutar ganha...".
O jornalista Bagehot escreve Physics And Politics: Or Thougts On The Application Of The Principles Of Natural Selection And Inheritance To Political Society (1872). Este autor pode ser considerado o primeiro Darwinista social uma vez que faz a ligação entre a evolução biológica de Darwin e a evolução social de Spencer, com claras influência de Lamark (transmissão de características adquiridas). Para Bagehot as capacidades adquiridas podem ser transmitidas hereditariamente, o progresso é promovido pela guerra constante.
Tylor em 1888 realiza o primeiro estudo em que cruza a informação de várias sociedades, este autor já em 1870 na sua obra Antropologia escreve: "…depois de procurar alimento a grande necessidade do Homem é defender-se, afugentar as bestas selvagens que o atacam e caçá-las, mas os seus inimigos mais perigosos são os da própria espécie…".
O Darwinismo Social ficou associado ao domínio da Europa sobre o resto do Mundo do fim do séc. XIX, ao colonialismo e respectivo complexo de superioridade. Ficou associado a Nacionalismos, ao progresso galopante da época em que o povo mais apto sobrevive, à respectiva corrida ao armamento e à guerra encarada como parte do processo evolucionário. Todas estas associações e usos políticos levam a que no início do séc. XX, o Darwinismo Social esteja desacreditado. Para tal contribui também a genética de Mendel (1900) que postula que as características adquiridas não podem ser transmitidas. Temos o choque da Primeira Guerra Mundial e desilusão que causou nas teorias sociais de então. Temos também um Socialismo que ganha força como teoria social e substitui Nacionalismos.
O Evolucionismo, iniciado com o Darwinismo Social, continua com Summer (1906) que vai dar à guerra a função externa de equilíbrio de poder e interna de promover a coesão interna. Davie em The Evolution Of War: A Study Of Its Role In Early Societies, (1929) defende posições evolucionistas, a sua obra é considerada a primeira monografia exclusivamente dedicada à guerra. Nota-se que os debates sobre a guerra deixam de ser apenas sobre as suas origens e deslocam-se agora mais para as causas e funções da mesma.
No campo da Psicologia, Freud no seu Totem e Tabu (1913) considera a agressão humana como um instinto, considera uma base biológica para a agressão que vai chamar de instinto de morte.
A maior reacção ao Darwinismo Social dá-se com a Escola do Determinismo Cultural da Antropologia, que tem origem com Boas e a sua obra An Anthropologist’s view of war (1912). Este autor considera o Homem como um ser inteiramente cultural em que a biologia não tem influência, logo a guerra é uma invenção da cultura e não tem nenhuma função. Existe então uma separação entre evolução cultural e biológica, não existe hereditariedade da cultura ou leis do comportamento, o Homem nasce uma prancha branca onde se escreve. Esta corrente de pensamento continua com Benedict que na sua obra Patterns of Culture (1934) define mesmo culturas pela sua postura perante a guerra, temos culturas guerreiras e pacíficas, temos também duas classes de guerra que podemos chamar de primitiva e estatal. Outra antropóloga desta escola é Mead que na sua obra War is only an invention – Not a biological necessity (1940) considera a guerra como um acidente histórico, mas encontra algumas funções superficiais para este hábito.
A Escola Difusionista surge com Perry e o seu trabalho War and civilization (1918), aqui a guerra é considerada a última actividade inventada pelo Homem. Schmidt e Kopper em Volker und kulturen (1924), da Escola dos Ciclos Culturais (Kulturkreis), têm a mesma postura. Os autores difusionistas iniciam o estudo da evolução da guerra através da análise dos diferentes armamentos das várias culturas.
Nos anos 40 renova-se o interesse no estudo da guerra com o despertar de novos Nacionalismos e a Segunda Guerra Mundial.
A corrente Materialista que reúne autores de diferentes influências, nasceu nos anos 40. Para estes a guerra primitiva é vista como uma forma de conseguir ou assegurar recursos importantes ou mesmo vitais.
O Sociólogo Malinowski, no seu trabalho An Anthropological Analysis Of War (1941) descreve a guerra primitiva como um mecanismo jurídico e sem funções económicas ou políticas.
Wright em A Study Of War (1942) define em percentagem as razões de guerra, estas são 4% defensivas, 59% sociais, 37% económicas e políticas. Nasce então a Polemologia pela mão deste sociólogo e de outros como G. P. Murdock, G. Bouthould, L. F. Richardson e P. T. Sorokin.
Turney- Hight na sua obra Primitive War: Its Practices And Concepts (1949) faz também a distinção entre guerra primitiva e complexa e tenta determinar como a segunda evoluiu da primeira., Eeste autor dá especial atenção ao estudo das funções da guerra.
Dart com The Predatory Transition From Ape To Man (1953), vem realçar o papel predatório na evolução do Homem, e com o seu Australopithecus caçador e assassino renova as teorias da caça na origem da guerra.
A Etologia vem reforçar a ideia de agressão como instinto inato da Psicologia de Freud. Lorentz em A Agressão (1963) caracteriza a agressão não como destrutiva, mas como benéfica para a sobrevivência da espécie, desde que a agressão seja ritual. No entanto o Homem não tem os mecanismos rituais o que torna a agressão um problema.
Nos anos 60, a Biologia Evolucionária, substitui a máxima da sobrevivência do indivíduo mais apto pela eficiência do grupo (inclusive fitness), os indivíduos sacrificam-se pelos seus parentes. A Sociobiologia vai aplicar este conceito ao comportamento social. Wilson em Sociobiologia (1975) e em On Human Nature (1978) combina função interna cívica e função externa de equilíbrio de poder da guerra, usandopara tal usa a selecção por parentesco e uma função evolucionária. Temos o Etnocentrismo no seu auge em que todos os grupos se fecham e revelam hostilidade para com o exterior, existe uma divisão entre amigos e aliados. O ser humano tem a capacidade, se necessário, de ser agressivo para com estranhos protegendo o grupo. A caça e guerra são tidas como processos inter grupo que unem os machos e o grupo, e promovendom a liderança. Estes comportamentos podem ser despoletados por causas exteriores, forças ambientais, competição por recursos e necessidade de uma margem de segurança. Para Wilson a evolução cultural da agressão é guiada por três forças: disposição genética para aprender formas de agressão de grupo, o ecossistema em que o grupo vive, história do grupo que leva à escolha de uma inovação cultural em detrimento de outra.
Vayda (1961) pensa que a guerra tem várias funções na sociedade. Esta serve como válvula de escape de tensões acumuladas, serve também como sistema jurídico em sociedades não estatais que não possuem este tipo de instituições, tem a função de equilibrar a densidade populacional com os recursos e optimizar a sua exploração. Outros autores continuam este Funcionalismo encontrando o lugar da guerra principalmente em sociedades primitivas.
A corrente Ecológica define a guerra como uma adaptação cultural que permite uma relação mais vantajosa entre os indivíduos e a sua ecologia cultural, entre os autores desta corrente temos Chagnon (1968).
A corrente Estruturalista tem início com Lévi-Strauss (1949) e segue com Clastres (1977), para este autor as sociedades estruturam-se num esquema de ordem e obediência em que a paz é imposta pela força, o estado natural das sociedades primitivas é a guerra permanente, o que permite a manutenção da sua identidade.
Na Arqueologia, Childe (1941) de inspiração Marxista, cria o modelo do guerreiro aristocrata na Pré-história, mas não consideram a guerra como uma força de mudança, este papel é tomado pelas migrações. Em reacção Clark (1935) traz-nos uma sociedade Pré-histórica pacíifica de camponeses, caçadores e mercadores, foca a cultura e não as mudanças. A Nova Arqueologia não trata o tema dos guerreiros e da guerra, a Pré-história é vista como estática e pacífica, a migração e a difusão são rejeitadas. O Marxismo-Estrutural dos anos 70 substitui as migrações por dinâmicas sociais internas e contradições estruturais. Os Pós-Modernos nos anos 80 continuam com a temática poder, domínio e conflito, mas tratam mais ideologias e casos particulares. Grande parte dos estudos dos anos 80, tratam as mudanças tipológicas no armamento. A maior parte dos investigadores apontam para evidências de guerra a partir do momento em que temos habitats fortificados e metalurgia. Nos anos 90, existe uma reacção, à Pré-história pacificada, com Keeley (1997) que aponta evidências de guerra desde o 5 º milénio a.C.
No mundo clássico a guerra nunca foi tema de um tratado de Filosofia. As descrições e teorias de guerra variam o que denota maneiras diferentes de guerrear consoante o povo e uma evolução ao longo do tempo. Se por um lado a maior parte dos autores considerava a guerra de estados civilizados como a continuação da guerra dos selvagens, outros como Ovídeo e Seneca, pensavam que o estado primitivo e natural do Homem é a paz e que a guerra era consequência do aparecimento da propriedade e desigualdade.
Na Idade Média recuperam-se as obras de Vegetius e de Frontinus (Estrategemata, séc. I d. C.), o facto de serem escritas em lLatim vem ajudar na sua divulgação. As obras do Império Bizantino também têm o seu peso como o Strategikon (séc. VI d. C.) e o Tacticon, (séc. IX d. C.), escritos por vários autores desconhecidos. As obras Bizantinas seguem a corrente dos clássicos, são descritivas e didácticas, o Strategikon tem um capítulo interessante onde o autor, aqui descreve as características de potenciais povos inimigos e a melhor maneira de enfrentá-los. As obras mais divulgadas na Idade Média são Chansons de Geste como La chanson de Roland (séc. XII) canções que narram os feitos de heróis (lenda e romântico), enfim um retrocesso na literatura militar. Mais tarde temos Bonet e L’abre de batailles (séc. XV) que coloca uma série de questões práticas e respostas sobre as lides militares.
Maquiavel com o seu Il Principe e L’Arte della Guerra (séc. XVI) tem um papel na definição do pensamento estratégico, no entantomas não são obras-primas ao nível militar, não distinguindo sequer táctica de estratégia. Outras obras deste período, como a de Montecuccoli, Tratado sobre a guerra (1680) e a do Marquês de Folard (1720) são igualmente fracas e baseadas nos clássicos. Grandes líderes militares desta época escreveram obras de carácter militar que não se tornaram obras-primas, menciono apenas Frederico o Grande que escreveu bastante.
Clausewitz na sua obra prima Da guerra (1832) tira à guerra a dimensão prática e formatada que tinha até então, para ele temos um grande drama apaixonado, existem muitas incertezas e uma tendência para o escalonar de situações, a guerra é antes demais um acto de violência. Este autor funde correntes militares anteriores e herda já a separação entre estratégia e táctica. A, a obra de Clausewitz mostra a natureza da guerra e como podemos usá-la, torna-se um trabalho que tem ainda hoje razão de ser. Temos uma filosofia de guerra que só tem comparação com os clássicos chineses.
No séc. XVII começam a germinar as teorias que hoje são a base de alguns debates. Estas teorias nascem principalmente entre filósofos e temos três paradigmas da relação da natureza humana com a guerra: o dualismo entre razão e paixão, o pecado original e a divina vingança de Santo Agostinho, o Homem racional destinado a lutar eternamente por alguma razão metafíisica.
O filósofo Hobbes com o seu Leviathan (1651) acredita numa sociedade primitiva violenta, e o estado de guerra como sendo o estado natural do homem (bellum omnium contra omnex). Este autor baseia-se nos clássicos e é o primeiro autor moderno a analisar a função da guerra e a formular uma teoria sobre o assunto. É o criador da Escola Naturalista sendo o primeiro a formular a pergunta se o nosso estado natural é o da guerra. Conclui que a guerra é parte da natureza humana e tem como função interna a solidariedade e como função externa de manter o equilíbrio de poderes. Para ele a guerra tem como causa a competição, a desconfiança, a glória e o poder (Tucídides reciclado). Vai usar dados etnográficos na análise dos índios americanos. As suas teorias estão na moda nos sécs. XVII e XVIII.
O filósofo Montesquieu com L’Esprit dês Lois (1748) transforma a idílica idade da paz numa idade histórica, mas pensa que o aparecimento da sociedade civil foi um melhoramento e sanciona as guerras justas, a guerra como criação de estados.
Rousseau, também filósofo, escreve Le Contract Social (1762), baseia-se em alguns autores clássicos (Ovídeo e Séneca) e apoia-se em Montesquieu. Com ele nasce a ideia de "Nobre Selvagem", uma sociedade primitiva onde não existia guerra porque simplesmente não havia necessidade, temos então a Escola de Aprendizagem cultural. Este autor procura as origens a não a função da guerra, renega qualquer papel da guerra na sociedade, guerra não faz parte da natureza do Homem e foi inventada pelos estados para as funções de solidariedade e manutenção do equilíbrio de poderes.
Ferguson com a sua obra History Of Civil Society (1767) tem o primeiro estudo empírico das origens da guerra, com base em dados etnográficos de vários missionários., Eeste autor não crê no nobre selvagem encontra mesmo uma função positiva na guerra, vai dar à guerra a função interna de Hobbes e a externa de manter a solidariedade cívica e a moral, ideia partilhada pelos autores clássicos principalmente os romanos, este considerando o que mais tarde será chamado de Etnocentrismo.
No séc. XVIII a questão da guerra não estava polarizada, alguns pensadores viam uma certa evolução na História humana e um papel para a guerra, formulam-se teorias de progresso que por vezes destacam a guerra.
Malthus escreve Essay On Population (1789), a guerra ganha uma dimensão cósmica que foge ao controlo do Homem, a guerra é a forma de Deus e da Natureza controlarem as populações humanas, esta teoria tem as suas bases clássicas nos Estóicos.
Spencer (1850) conclui que o crescimento da população produz tensões entre sociedades, a guerra resolve essas tensões, é o agente de evolução e de um progresso para melhor, é a sobrevivência do mais apto, o progresso leva uma sociedade de egoístas selvagens a uma de altruístas civilizados, e por fim a guerra torna-se obsoleta.
O biólogo Darwin escreve The Origin Of Espécies (1859) e Descent Of Man onde formula as suas teorias de evolução e da sobrevivência do mais apto. Para este autor a guerra está na natureza humana devido ao nosso passado animal. Darwin pensa que a guerra foi um agente na evolução humana e diz: "…se duas tribos competem a mais unida e pronta a lutar ganha...".
O jornalista Bagehot escreve Physics And Politics: Or Thougts On The Application Of The Principles Of Natural Selection And Inheritance To Political Society (1872). Este autor pode ser considerado o primeiro Darwinista social uma vez que faz a ligação entre a evolução biológica de Darwin e a evolução social de Spencer, com claras influência de Lamark (transmissão de características adquiridas). Para Bagehot as capacidades adquiridas podem ser transmitidas hereditariamente, o progresso é promovido pela guerra constante.
Tylor em 1888 realiza o primeiro estudo em que cruza a informação de várias sociedades, este autor já em 1870 na sua obra Antropologia escreve: "…depois de procurar alimento a grande necessidade do Homem é defender-se, afugentar as bestas selvagens que o atacam e caçá-las, mas os seus inimigos mais perigosos são os da própria espécie…".
O Darwinismo Social ficou associado ao domínio da Europa sobre o resto do Mundo do fim do séc. XIX, ao colonialismo e respectivo complexo de superioridade. Ficou associado a Nacionalismos, ao progresso galopante da época em que o povo mais apto sobrevive, à respectiva corrida ao armamento e à guerra encarada como parte do processo evolucionário. Todas estas associações e usos políticos levam a que no início do séc. XX, o Darwinismo Social esteja desacreditado. Para tal contribui também a genética de Mendel (1900) que postula que as características adquiridas não podem ser transmitidas. Temos o choque da Primeira Guerra Mundial e desilusão que causou nas teorias sociais de então. Temos também um Socialismo que ganha força como teoria social e substitui Nacionalismos.
O Evolucionismo, iniciado com o Darwinismo Social, continua com Summer (1906) que vai dar à guerra a função externa de equilíbrio de poder e interna de promover a coesão interna. Davie em The Evolution Of War: A Study Of Its Role In Early Societies, (1929) defende posições evolucionistas, a sua obra é considerada a primeira monografia exclusivamente dedicada à guerra. Nota-se que os debates sobre a guerra deixam de ser apenas sobre as suas origens e deslocam-se agora mais para as causas e funções da mesma.
No campo da Psicologia, Freud no seu Totem e Tabu (1913) considera a agressão humana como um instinto, considera uma base biológica para a agressão que vai chamar de instinto de morte.
A maior reacção ao Darwinismo Social dá-se com a Escola do Determinismo Cultural da Antropologia, que tem origem com Boas e a sua obra An Anthropologist’s view of war (1912). Este autor considera o Homem como um ser inteiramente cultural em que a biologia não tem influência, logo a guerra é uma invenção da cultura e não tem nenhuma função. Existe então uma separação entre evolução cultural e biológica, não existe hereditariedade da cultura ou leis do comportamento, o Homem nasce uma prancha branca onde se escreve. Esta corrente de pensamento continua com Benedict que na sua obra Patterns of Culture (1934) define mesmo culturas pela sua postura perante a guerra, temos culturas guerreiras e pacíficas, temos também duas classes de guerra que podemos chamar de primitiva e estatal. Outra antropóloga desta escola é Mead que na sua obra War is only an invention – Not a biological necessity (1940) considera a guerra como um acidente histórico, mas encontra algumas funções superficiais para este hábito.
A Escola Difusionista surge com Perry e o seu trabalho War and civilization (1918), aqui a guerra é considerada a última actividade inventada pelo Homem. Schmidt e Kopper em Volker und kulturen (1924), da Escola dos Ciclos Culturais (Kulturkreis), têm a mesma postura. Os autores difusionistas iniciam o estudo da evolução da guerra através da análise dos diferentes armamentos das várias culturas.
Nos anos 40 renova-se o interesse no estudo da guerra com o despertar de novos Nacionalismos e a Segunda Guerra Mundial.
A corrente Materialista que reúne autores de diferentes influências, nasceu nos anos 40. Para estes a guerra primitiva é vista como uma forma de conseguir ou assegurar recursos importantes ou mesmo vitais.
O Sociólogo Malinowski, no seu trabalho An Anthropological Analysis Of War (1941) descreve a guerra primitiva como um mecanismo jurídico e sem funções económicas ou políticas.
Wright em A Study Of War (1942) define em percentagem as razões de guerra, estas são 4% defensivas, 59% sociais, 37% económicas e políticas. Nasce então a Polemologia pela mão deste sociólogo e de outros como G. P. Murdock, G. Bouthould, L. F. Richardson e P. T. Sorokin.
Turney- Hight na sua obra Primitive War: Its Practices And Concepts (1949) faz também a distinção entre guerra primitiva e complexa e tenta determinar como a segunda evoluiu da primeira., Eeste autor dá especial atenção ao estudo das funções da guerra.
Dart com The Predatory Transition From Ape To Man (1953), vem realçar o papel predatório na evolução do Homem, e com o seu Australopithecus caçador e assassino renova as teorias da caça na origem da guerra.
A Etologia vem reforçar a ideia de agressão como instinto inato da Psicologia de Freud. Lorentz em A Agressão (1963) caracteriza a agressão não como destrutiva, mas como benéfica para a sobrevivência da espécie, desde que a agressão seja ritual. No entanto o Homem não tem os mecanismos rituais o que torna a agressão um problema.
Nos anos 60, a Biologia Evolucionária, substitui a máxima da sobrevivência do indivíduo mais apto pela eficiência do grupo (inclusive fitness), os indivíduos sacrificam-se pelos seus parentes. A Sociobiologia vai aplicar este conceito ao comportamento social. Wilson em Sociobiologia (1975) e em On Human Nature (1978) combina função interna cívica e função externa de equilíbrio de poder da guerra, usandopara tal usa a selecção por parentesco e uma função evolucionária. Temos o Etnocentrismo no seu auge em que todos os grupos se fecham e revelam hostilidade para com o exterior, existe uma divisão entre amigos e aliados. O ser humano tem a capacidade, se necessário, de ser agressivo para com estranhos protegendo o grupo. A caça e guerra são tidas como processos inter grupo que unem os machos e o grupo, e promovendom a liderança. Estes comportamentos podem ser despoletados por causas exteriores, forças ambientais, competição por recursos e necessidade de uma margem de segurança. Para Wilson a evolução cultural da agressão é guiada por três forças: disposição genética para aprender formas de agressão de grupo, o ecossistema em que o grupo vive, história do grupo que leva à escolha de uma inovação cultural em detrimento de outra.
Vayda (1961) pensa que a guerra tem várias funções na sociedade. Esta serve como válvula de escape de tensões acumuladas, serve também como sistema jurídico em sociedades não estatais que não possuem este tipo de instituições, tem a função de equilibrar a densidade populacional com os recursos e optimizar a sua exploração. Outros autores continuam este Funcionalismo encontrando o lugar da guerra principalmente em sociedades primitivas.
A corrente Ecológica define a guerra como uma adaptação cultural que permite uma relação mais vantajosa entre os indivíduos e a sua ecologia cultural, entre os autores desta corrente temos Chagnon (1968).
A corrente Estruturalista tem início com Lévi-Strauss (1949) e segue com Clastres (1977), para este autor as sociedades estruturam-se num esquema de ordem e obediência em que a paz é imposta pela força, o estado natural das sociedades primitivas é a guerra permanente, o que permite a manutenção da sua identidade.
Na Arqueologia, Childe (1941) de inspiração Marxista, cria o modelo do guerreiro aristocrata na Pré-história, mas não consideram a guerra como uma força de mudança, este papel é tomado pelas migrações. Em reacção Clark (1935) traz-nos uma sociedade Pré-histórica pacíifica de camponeses, caçadores e mercadores, foca a cultura e não as mudanças. A Nova Arqueologia não trata o tema dos guerreiros e da guerra, a Pré-história é vista como estática e pacífica, a migração e a difusão são rejeitadas. O Marxismo-Estrutural dos anos 70 substitui as migrações por dinâmicas sociais internas e contradições estruturais. Os Pós-Modernos nos anos 80 continuam com a temática poder, domínio e conflito, mas tratam mais ideologias e casos particulares. Grande parte dos estudos dos anos 80, tratam as mudanças tipológicas no armamento. A maior parte dos investigadores apontam para evidências de guerra a partir do momento em que temos habitats fortificados e metalurgia. Nos anos 90, existe uma reacção, à Pré-história pacificada, com Keeley (1997) que aponta evidências de guerra desde o 5 º milénio a.C.
No comments:
Post a Comment