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Este Blogue tem como objectivo a discussão da violência em geral e da guerra na Pré-História em particular. A Arqueologia da Península Ibérica tem aqui especial relevo. Esperamos cruzar dados de diferentes campos do conhecimento com destaque para a Antropologia Social. As críticas construtivas são bem vindas neste espaço, que se espera, de conhecimento.

Guerra Primitiva\Pré-Histórica
Violência interpessoal colectiva entre duas ou mais comunidades políticas distintas, com o uso de armas tendo como objectivo causar fatalidades, por um motivo colectivo sem hipótese de compensação.


Thursday 6 January 2011

Violência e Etnografia: os Inuit (Esquimós)

Os Inuit habitam zonas parcas em recursos e extremamente hostis para a sobrevivência humana como a Gronelândia, Norte do Canadá e Alasca. Este povo de caçadores-recolectores nunca teve grande densidade populacional e os seus pequenos bandos encontram-se separados por grandes distâncias. Os Inuit não conheciam a Metalurgia antes do contacto com os europeus. Este cenário não é favorável à existência de formas de guerra e a sobrevivência parece ser a única preocupação.
Ao contrário do que se esperava os Inuit tinham formas de guerra, preocupações defensivas na escolha e construção dos habitats e armas defensivas (Leblanc e Register, 2004; Keeley, 1997, Harris 2004).
Os Inuit possuíam uma armadura feita de placas de osso cozidas umas às outras formando uma protecção que é usada debaixo da roupa, esta arma é altamente especializada e tem utilidade apenas na guerra (Leblanc e Register, 2004, p. 63 e 117).
Antes do aparecimento da Real Polícia Montada do Canadá, os Inuit tinham altas taxas de homicídio, várias vezes superiores às das sociedades estatais contemporâneas, o feud, os raids e batalhas campais eram práticas comuns (Keeley, 1997, p. 29).
Num acampamento Inuit todos os homens já tinham morto alguém, a maior parte das disputas eram por mulheres, apesar do costume deste povo de partilhar as mulheres (Keeley, 1997, p. 120).
A guerra interna era comum na forma de raids, várias histórias foram recolhidas entre os anciões dos Esquimós do Noroeste do Alasca (Burch, 1974 apud Leblanc e Register, 2004, p. 67), estes descrevem o raid (massacre) ao pormenor.
A guerra externa existiu, temos o registo dos Cree do Este do Quebec que matavam todos os Inuit que encontravam e ficavam apenas com as crianças (Keeley, 1997, p. 67).
Em acampamentos Inuit escavados pelos arqueólogos, foram encontrados artefactos preciosos pertencentes a culturas nórdicas vizinhas, nos acampamentos dos vizinhos nórdicos existem poucos artefactos Inuit, é pouco provável que estes tenham sido adquiridos pelo comércio, existe a probabilidade de terem sido saqueados pelos Inuit aos vizinhos (Keeley, 1997, p. 126).
A frequência da guerra era anual, os grupos de guerreiros podiam atingir os cinquenta indivíduos, existindo mesmo um termo que tem como tradução o grande guerreiro (Burch, 1974 apud Leblanc e Register, 2004, p. 118).
Os habitats Inuit eram escolhidos tendo em conta a defesa, em locais com barreiras naturais, em pequena línguas de terra, existiam mesmo túneis nas casas que permitiam a fuga em caso de necessidade, os cães eram usados como alarme (Burch, 1974 apud Leblanc e Register, 2004, p. 118).
Os Inuit têm uma competição de canções que serve para resolver disputas pessoais e atenuar a tensão entre grupos vizinhos, este concurso no entanto pode acabar em batalha campal (Harris, 2004, p. 416).
Arqueólogos encontraram valas comuns no sítio Inuit de Sautanaktuk, nestas as ossadas apresentavam sinais de morte violenta e desmembramento (Melbye e Fairgreive, 1994 apud Leblanc e Register, 2004, p. 118).


Bibliografia:
HARRIS, Marvin (2004) – Introducción a la Antropologia general. Madrid: Alianza Editorial. 7.ª Edición.
KEELEY, Lawrence (1997) - War before civilization: The myth of the
peaceful savage. Oxford: Oxford University Press.
LEBLANC, Steven A.; REGISTER, Katherine E. (2004) – Constant battles: the myth of the peaceful, noble savage. New York: St. Martin’s Griffin.

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