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Este Blogue tem como objectivo a discussão da violência em geral e da guerra na Pré-História em particular. A Arqueologia da Península Ibérica tem aqui especial relevo. Esperamos cruzar dados de diferentes campos do conhecimento com destaque para a Antropologia Social. As críticas construtivas são bem vindas neste espaço, que se espera, de conhecimento.

Guerra Primitiva\Pré-Histórica
Violência interpessoal colectiva entre duas ou mais comunidades políticas distintas, com o uso de armas tendo como objectivo causar fatalidades, por um motivo colectivo sem hipótese de compensação.


Friday, 7 January 2011

Violência e Etnografia: os Kung.

Os Kung! são caçadores-recolectores e habitam o deserto do Kalahari na África do Sul, são também chamados de San (Bushman), vivem em pequenos bandos espalhados por vários acampamentos. Possuem um conjunto de artefactos mínimo e não conheciam a metalurgia até ao contacto com os europeus.
Jonh e Lorna Marshal iniciaram os estudos sobre os Kung!, concluíram que estes têm que trabalhar apenas algumas horas por dia para sobreviver, no entanto estes estudos não tiveram em conta uma série de variáveis: não incluíram as viagens até aos recursos (como os poços de água), o processamento dos recursos no acampamento, os tempos de escassez, as influências das sociedades estatais (como por exemplo o uso de ferramentas de metal ou roupas de algodão), o controlo populacional também não foi tido em conta (num ambiente em que se a população cresce temos logo desequilíbrio) , a vida dos Kung! não é fácil nem pacífica (Leblanc e Register, 2004, p. 106-116).
Os Kung! tiveram taxas de homicídio muito superiores às dos países industrializados nos anos 20 a 60 (Keeley, 1997, p. 29).
Antes do estabelecimento da polícia do Bechuanaland \ Botswna, os Kung! efectuavam raids e feuds entre bandos (guerra interna) e atacavam os povos vizinhos (guerra externa) de pastores para roubar gado, os Khoikhoi e dos Tswana usavam mesmo os prefixos Ma (tribo inimiga) e San (bandido) para designar os Kung! (Keeley, 1997, p. 133-135).
As capacidades militares dos Bushmen (os que falam San) foram registadas por ingleses e holandeses, estes referem mesmo que os líderes dos Bantu (povos de agricultores) usavam os Kung! na sua guarda pessoal (Leblanc e Register, 2004, p. 106).
Além da tradição oral, as desavenças dos Kung! com os povos vizinhos ficaram inscritas também na Arte rupestre, aqui temos combates entre os arqueiros Kung! e os pastores vizinhos armados com escudos, lanças e mocas (Keeley, 1997, p. 133).
Os povos de pastores efectuavam raids aos acampamentos Kung!, como vingança pelo roubo de gado, que levaram ao extermínio total de inúmeros bandos. Os Kung! apesar da desvantagem numérica e terem pior armamento conseguiram um equilíbrio na guerra com os pastores, tinham temidas setas envenenadas, a vantagem táctica de conhecerem melhor o terreno e maior mobilidade (Keeley, 1996, p. 133).

Bibliografia:
KEELEY, Lawrence (1997) - War before civilization: The myth of the
peaceful savage. Oxford: Oxford University Press.
LEBLANC, Steven A.; REGISTER, Katherine E. (2004) – Constant battles: the myth of the peaceful, noble savage. New York: St. Martin’s Griffin.

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