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Este Blogue tem como objectivo a discussão da violência em geral e da guerra na Pré-História em particular. A Arqueologia da Península Ibérica tem aqui especial relevo. Esperamos cruzar dados de diferentes campos do conhecimento com destaque para a Antropologia Social. As críticas construtivas são bem vindas neste espaço, que se espera, de conhecimento.

Guerra Primitiva\Pré-Histórica
Violência interpessoal colectiva entre duas ou mais comunidades políticas distintas, com o uso de armas tendo como objectivo causar fatalidades, por um motivo colectivo sem hipótese de compensação.


Sunday 3 May 2009

Da Natureza do Homem: lendas urbanas e outras histórias - Palmira F. da Silva

in Blog De Rerum Natura
Da Natureza do Homem: lendas urbanas e outras histórias

Não obstante todos as indicações em contrário da biologia e da sociobiologia, a concepção judaico-cristã do ser humano como naturalmente perverso preenche o léxico do imaginário da população em geral.Segundo Ashley Montagu (in «The Nature of Human Aggression») na sociedade ocidental este pessimismo em relação à natureza humana foi secularizado ao longo dos séculos, o que explica que tenha marcado mesmo as lucubrações de pensadores ateus como Freud, Thomas Huxley (que introduziu o termo agnóstico), Herbert Spencer, Konrad Lorenz, Niko Tinbergen ou Desmond Morris. O facto de os autores citados serem cientistas de renome, autores de obras com grande divulgação entre o público em geral, contribuiu para o sedimentar desta descrença na bondade do Homem.Todos estamos familiarizados com a cena de abertura do famoso filme de Stanley Kubrik «2001, Odisseia no Espaço» que corrobora esta noção da violência inata do Homem, que o acompanha desde os primórdios da evolução. Mas poucos saberão que com esta cena estão a assimilar as teorias (erradas) de um antropólogo australiano, Raymond Dart. Em 1924, Raymond Dart fez a descoberta que o tornou famoso. Dart estava interessado nos fósseis descobertos numa exploração de pedra em Taung, África do Sul, e descobriu entre eles o fóssil de um primata a que chamou Australopitecus africanus.A descoberta por Dart do Taung Boy e a sua persistência em ir contra o que a comunidade científica defendia na época, determinado essencialmente por aquele que é hoje reconhecido como uma fraude grosseira, o suposto fóssil baptizado homem de Piltdown, foram determinantes no esclarecimento da evolução do homem. Mas as suas teorias sobre a selvajaria destes antepassados do Homem, amplamente divulgadas e amplificadas pelos media e passadas para as telas de cinema em filmes de culto, foram tão perniciosas na opinião pública quanto o Piltdown o foi para a ciência.Dart concluiu erradamente dos fósseis de animais trucidados de forma violenta descobertos nas imediações dos fósseis Australopitecus, que estes antepassados do Homem eram caracterizados por uma cultura «osteodonkeratic« (ossos, dentes e chifres), isto é, eram caçadores cruéis cujas tendências sanguinárias deixaram marcas indeléveis no comportamento humano. E escreveu em 1953, ano em que que foi reconhecido publicamente ser o Piltdown uma fraude:«Os arquivos manchados de sangue e atrocidades - The blood-bespattered, slaughtergutted [sic] archives of human history, no original - da História da Humanidade, desde os mais antigos registos egipcios e sumérios até às mais recentes atrocidades da II Guerra Mundial, estão de acordo com o primitivo canibalismo universal, com as práticas de sacrifícios animais e humanos ou seus substitutos em religiões formalizadas, e com as práticas generalizadas de escalpelizar, caçar cabeças para reduzi-las, mutilar corpos, e com as actividades necrófilas da humanidade revelando esse hábito predatório, essa marca de Caim, essa sede de sangue que separa dieteticamente o homem dos seus parentes antropóides e o aproxima dos mais mortíferos dos carnívoros».A influência da concepção judaico-cristã do Homem em Dart é evidenciada pela epígrafe deste artigo, «A Transição Predatória de Macaco a Homem», uma citação de Baxter, um famoso teólogo inglês do século XVII: «De todas as feras, a fera homem é a pior. Para as outras e para si mesma, o mais cruel inimigo».A visão dos «macacos assassinos» de Dart foi popularizada pelo escritor Robert Ardrey em livros como «African Genesis» que por sua vez serviram de inspiração para a cena de abertura do filme «2001: A Odisseia no Espaço». Estas ideias sobre os Australopitecus foram fortemente criticadas na época e estudos posteriores provam que estão totalmente erradas - os fósseis de animais encontrados nas imediações foram mortos por predadores que não este antepassado do homem (que era muito provavelmente uma presa, não um predador).Para desmistificar as lendas urbanas sobre a natureza malévola do Homem, recomendo o livro de Robert W. Sussman e Donna Hart «Man The Hunted: Primates, Predators, and Human Evolution». O livro «Biological Basis of Human Behavior: A Critical Review», e em especial o capítulo 20, intitulado «The myth of man the hunter/man the killer and the evolution of human morality», igualmente de Robert Sussman - disponível em formato pdf - é muito interessante porque sugere que as teorias de Dart, completamente erradas, prevalecem na opinião pública e mesmo em alguns membros da comunidade científica apenas porque «reflectem, reforçam e reiteram as nossas crenças culturais tradicionais».Na realidade, não obstante todas as evidências em contrário, para o público em geral a imagem que perdura incontestada é a da violência primeva do Homem, a sua tendência intrínseca para o mal, um assassino da própria espécie.
Posted by Palmira F. da Silva at 7:28
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35 comments:
carlos disse...
O problema que aponta quanto à visão negativa sobre a natureza do homem reside tão somente na moral de quem observa e pratica, i. e., o que é bom ou é mau são paradigmas voláteis, não havendo dúvida no seguinte: todo o comportamento humano é natural. Os autores que referiu como contributivos para a cristalização de um pensamento negativo em relação à natureza humana enquadram-se num contexto civilizacional próprio, que é o nosso, o ocidental. Aliás, em teorias políticas quanto ao que é a natureza humana e, portanto, ao que deve ser a natureza do Estado (enquanto organização social), recomendo a leitura de teoristas como Maquiavel, Hobbes ou Thomas Moore. Fora deste contexto cultural ocidental, e numa aproximação ao estado mais 'natural' possível do humano, note-se que a antropofagia ou o incesto, por exemplo, não devem ser objecto de julgamento moral, mas sim, e somente, de análise cultural. Se o homem é bom ou é mau, julgo ser uma questão falaciosa. A verdadeira questão é sermos um animal essencialmente cultural, mais do que nos diferenciarmos das bestas pela capacidade da linguagem e do pensamento abstracto. Finalmente, e defendendo a obra de arte de excelência que é o filme de Kubrik, note-se que não existe moral nas imagens per se, ela advém do observador (um antropófago de uma tribo remota não reconheceria a questão dessa forma negativa). O que de facto é o ponto essencial da introdução de 2001... é o momento primevo do despertar da consciência humana quanto à possibilidade de si mesmo, a consciência de ser. Aqui nasce a cultura no homem, que começa a questionar-se sobre a grande questão, talvez a única, a mais importante, a existencial: seja através da ciência, da filosofia e da arte. Cá continuaremos a perguntarmo-nos e a teorizarmos sobre isto. Cumprimentos carlosalvespereira@gmail.com
28 de Março de 2007 12:52
visitante disse, ou disse...
Continuo a acreditar na frase latina: "Homo homini lupus".
28 de Março de 2007 15:28
CAA disse...
Admito que devido às minhas «...crenças culturais tradicionais», tenho muitas dúvidas acerca do sentido deste texto - embore me confesse desprovido de bases científicas para o tentar refutar.Interessante seria extrair consequências politco-ideológicas desta possível discussão.
28 de Março de 2007 15:36
JSA disse...
A questão moral é essencialmente menor, especialmente no que à ciência em si mesma diz respeito. As consequências da mesma e, especialmente isso, a forma como estas conclusões são vistas pela sociedade em geral, isso sim, é oq ue estará em jogo. No caso de Dart, o cientista nele fez a descoberta: o homem fez a interpretação. Não é muito diferente de tentar encontrar analogias físicas reconhecíveis apra explicar o estranhíssimo universo em que vivemos.Claro que os resultados da ciência deveriam ser transmitidos de forma tão estéril quanto possível, não contaminados por comentários subjectivos que possam colocar um "spin" diferente às conclusões. Ainda assim há que ter sempre em conta que os cientistas são pessoas cuja educação foi fundamentada num conjunto de noções religiosas e/ou morais que irão provavelmente interferir com a análise de resultados. Note-se a forma como muitos cientistas observaram fósseis antigos e concluíram (e concluem, no caso dos pseudo-cientistas) que são pré-diluvianas. A vantagem da ciência é o registo e a existência de dados objectivos, os quais podem ser sempre re-analisados mais tarde. É a única arma eficaz contra os preconceitos (ou pré-conceitos) de cientistas individuais e da sociedade em geral.
28 de Março de 2007 15:41
Ricardo Alves disse...
O ser humano é o único animal que mata por questões fúteis (como o poder; ou para eliminar rivais sexuais). Nesse sentido, é o único animal com uma capacidade para um tipo específico de «mal»: a violência pré-determinada e sem ganhos imediatos (pelo contrário, até possivelmente prejudicando o grupo). E claro que isto só é possível porque é o animal que desenvolveu uma cultura mais complexa (concretamente: porque tem uma linguagem que lhe permite elaborar planos de longo prazo e combinar estratégias de grupo). O «mal» humano é ter tanta cultura.
28 de Março de 2007 16:02
Rui Alberto disse...
Permita-me comentar a sua frase inicial:Não obstante todos as indicações em contrário da biologia e da sociobiologia, a concepção judaico-cristã do ser humano como naturalmente perverso preenche o léxico do imaginário da população em geral.Se em ciência algo é certo é que... nada é certo. Tudo são (boas) hipóteses de trabalho até que os factos as desmintam.É evidente (parece-me) que o paradigma de uma ciência puramente objectiva, "asséptica" em relação à ideologia, às concepções filosóficas e/ou religiosas é hoje insustentável.Quando nos aproximamos mais do homem como objecto da ciência mais os cruzamentos são inevitáveis. Não acho que isso leve a má ciência; desde que quem produz ciência explicite o melhor que souber os seus próprios pressupostos.Dito isto tenho muita dificuldade em aceitar ingenuamente o que seriam as "indicações da biologia e da sociobiologia) como verdades dogmáticas sobre opções morais (isto é, relativas ao exercício da liberdade humana).Aliás, a afirmação do "ser humano como naturalmente perverso" traz-me algumas objecções.1 - Estou de acordo que a tradição cristã rejeita uma visão "bondosa" do ser humano (excepto o maniqueismo e derivados a la Rousseau). Mas sempre equilibrou (dependendo das correntes e das épocas) a afirmação do "pecado original" com a bondade da criação divina (E Deus viu que era tudo muito bom). Portanto... não simplificar.2 - Esta dialéctica judaico-cristã entre bondade da criação e "pecado" estrutural do homem é mais um modelo hermenêutico do homem e da sociologia presente aos produtores dos relatos cristãos do que afirmação paleontológica.
28 de Março de 2007 16:22
Miguel Madeira disse...
«Continuo a acreditar na frase latina: "Homo homini lupus".»"O homem é o lobo do homem" - mas note-se que o lobo é um animal relativamente pacifico (para os outros lobos, claro): há lutas nas matilhas, mas acho que raramente mortais.Aonde é que eu quero chegar com isto - se os outros animais têm relativamente pouca agressividade intra-especifica (i.e., face a animais da mesma espécie), isso poderá indicar que a agressividade intra-especifica não é algo herdado "desde os tempos primevos"
28 de Março de 2007 16:34
JSA disse...
«O ser humano é o único animal que mata por questões fúteis (como o poder; ou para eliminar rivais sexuais)» isto não é verdade. A natureza está pejada de exemplos diferentes. Não é preciso ir mais longe que as aranhas que comem as suas crias ou os primatas que matam as crias que não descendem de si quando se tornam o macho dominante num grupo. Poder-se-à dizer que o ser humano é o único animal que mata por ódio, mas nem isso seria verdade. O que se comprova cada vez mais (pelo menos que eu o note) é que o ser humano é essencialmente semelhante a múltiplos outros animais. A maior diferença é a tal cultura, o que permite racionalizar acerca das suas acções, criando uma camada extra de complexidade. Mesmo assim não é tudo: o facto de outros animais serem capazes de sentir vergonha ou timidez a um determinado nível demonstra-o.Há que começar a ver o homem como apenas mais um animal, apenas com uma eventual maior complexidade. Temos de deixar de nos ver como o "pináculo da evolução", pensamento que não mais é que a aplicação dos conceitos criacionistas (que nos colocam como obra suprema) à teoria da evolução (que comprova que viemos de outro lado). Querer tornar o ser humano como único nas suas qualidades e defeitos é demonstrar precisamente aquilo de que fala a Palmira no post.
28 de Março de 2007 16:49
CAA disse...
«O ser humano é o único animal que mata por questões fúteis (como o poder; ou para eliminar rivais sexuais)»Bom, na qualidade estrita de espectador do Odisseia, Discovery e NG, permito-me discordar...
28 de Março de 2007 17:23
CAA disse...
Imagine-se que até já há quem diga que De Rerum quer repristinar o Rousseau, sem dúvida ao serviço de uma tenebrosa e sinistra conspiração jacobina...
28 de Março de 2007 17:58
Palmira F. da Silva disse...
Essa de recuperar o bom selvagem do Rousseau não! Especialmente se considerarmos que boa parte das teses do eduquês são rousseaunianas...O que eu pretendia com o post está bem expresso nos comentários do jsa, a quem agradeço pelos comentários.Já agora, as teses de Dart estão mesmo erradas: os fósseis de antílopes e afins não foram brutalizados pelos nossos antepassados mas por outros predadores, como análises posteriores revelaram. Isto é, ele assentou as suas conclusões em dados que interpretou erradamente. Muito provavelmente o Australopitecus era uma presa não um predador...
28 de Março de 2007 18:08
Diogo M Duarte disse...
É de facto uma discussão interessante e que se encontra longe de estar resolvida. No entanto, remeter a discussão para questões biológicas leva-nos para caminhos ainda mais complexos, falaciosos e até perigosos. O erro das interpretações apresentadas e refutadas que este artigo expõe, está exactamente na tentativa de os compreender a partir de explicações biológicas, logo não me parece plausível insistir novamente na mesma solução para explicar o comportamento humano. Veja-se o exemplo dos «macacos assassinos», que foi refutado não através de explicações biológicas mas sim pela compreensão dos elementos exteriores que influenciaram o seu comportamento nesse sentido. Ouso acrescentar ainda que a insistência em discutir a «natureza do homem» através de tais premissas também só persiste por «reflectir, reforçar e reiterar as nossas crenças culturais tradicionais».
28 de Março de 2007 18:34
ASilvestre disse...
Só homem é capaz do bem e do mal porque é um ser dotado de livre arbítrio.Relativamente à natureza humana não podemos deixar de ser pessimistas, pois quando olhamos para a história da humanidade a conclusão a que chegamos é que toda ela foi uma história de guerras,genocídios,torturas e misérias.A este respeito basta ver a história recente.Eu pessoalmente tenho dificuldade em conceber, fora os psicopatas, alguém fazer o mal pelo mal. Mas também tenho a certeza de que um homem com medo é capaz de tudo. Por isso tenho mais facilidade em perfilhar a antropologia pessimista de Hobbes à máxima de Rosseau de que o homem é naturalmente bom a sociedade é que o corrompe. Não esquecer,todavia, o complexo R, o complexo reptilineo, a parte mais primitiva, predatória, do cerebro humano que o milénios de civilização não conseguiram apagar.Cumprimentos
28 de Março de 2007 18:45
Luís Bonifácio disse...
Não percebo o que tem a teoria de Raymond Dart a ver com a fraude do Homem de Piltdown.essa marca de Caim, essa sede de sangue que separa dieteticamente o homem dos seus parentes antropóides e o aproxima dos mais mortíferos dos carnívoros».O que há de errado com esta frase? NadaQuanto a Rousseau. Se é verdade que quando nascemos somos "puros", então porque é que as crianças têm de ser ensinadas?
29 de Março de 2007 0:52
Francisco Burnay disse...
Caro luís bonifácio,Suponho que para Rousseau a educação seja parte da corrupção...
29 de Março de 2007 2:21
luispedro disse...
"O ser humano é o único animal que mata por questões fúteis (como o poder; ou para eliminar rivais sexuais)"Fúteis?O que é que eliminar rivais sexuais tem de fútil? E o poder é, pelo menos, mais uma forma de obter parceiros sexuais.O que é que procurar monopolizar parceiros sexuais tem de fútil?
29 de Março de 2007 5:27
António disse...
Esta frase:"O ser humano é o único animal que mata por questões fúteis (como o poder; ou para eliminar rivais sexuais)"Não podia estar mais errada...Primeiro por considerar o homem único nessas acções, cujos exemplos na natureza são demasiados.Depois, por considerar fútil, o poder e o sexo. Todos os organismos têm como propósito a sobrevivência e a disseminação dos genes, que é exactamente o que poder e sexo representam. Mais uma vez, me parece qua não se percebe a natureza das coisas.A natureza da "agressão" também me parece mal explicada... Em muitos argumentos tenta-se colocar a agressão "territorial" associada ao poder e ao sexo, ao mesmo nível da agressividade da caça, que visa a alimentação.Em relação à agressão territorial, esta existe em todos os animais, sejam herbivoros, sejam carnivoros.Esta não pode de forma alguma ser comparada à "agressão" que leva à morte de um outro ser, com o intuito de obter alimento. Mesmo os mais agressivos dos animais, têm de ser treinados pelos pais, para desenvolverem essa agressividade, de modo a subsistirem, mas, de forma alguma nascem ingénuos. Podem é ser socializados de formas diferentes e manifestar comportamentos diferentes, por aprendizagem.Quanto ao nascermos racistas, tenho dúvidas. Quando as crianças começam a manifestar sentimentos de qualquer espécie em relação a outros humanos, já passou por meses de socialização, e não me parece que esteja num estado tão puro assim que permita avaliação.
29 de Março de 2007 12:03
Ricardo Alves disse...
Já vi que dei dois maus exemplos...Mesmo assim, mantenho a frase mas sem aquilo que está entre parêntesis...
29 de Março de 2007 12:07
Ricardo Alves disse...
Concretamente, parece-me que a guerra enquanto actividade de grupo contra grupo (dentro da mesma espécie) é um exclusivo humano, eventualmente partilhado com outros primatas...http://www.world-science.net/exclusives/050209_warfrm.htm
29 de Março de 2007 12:10
Anónimo disse...
Se não entrarmos em filosofias, nem em definições acerca do significado de violência (ou perversidade) sobra-nos apenas a visão comparativa. Comparando a éspecie humana aos parentes mais próximos não tenho dúvida de que somos uma espécie violenta, (e não estou a referir-me ás sociedades modernas), éramos omnívaros e matávamos para comer, também não tenho dúvidas de que matássemos apenas por diversão. Claro que a religião usou isso pra se fortalecer (muitas das vezes utilizando a própria violência), no entanto em cada um de nós há um passado indelével, e todos nós (hoje em dia), inconscientemente ou conscientemente usamos dessa violência para nos afirmarmos. O post começa e acaba com a visão religiosa, no meio passa por uma tentativa de refutar esta visão, como disse anteriormente a religião usou a base e acrescentou-lhe alguma coisa, mas, se pensarmos num ser humana sem religião, acredito que enontremos essa violência.Acho que o estranho era se não fossemos violentos...Bruno
29 de Março de 2007 12:27
JSA disse...
«Concretamente, parece-me que a guerra enquanto actividade de grupo contra grupo (dentro da mesma espécie) é um exclusivo humano»Mais uma vez há aí erro: basta recorrer às formigas para se ver exemplo semelhante. Também felinos têm tendência a ser agressivos contra outros grupos da mesma espécie. Em lobos, vemos frequentemente alcateias a disputarem entre si territórios. Tenho ideia que comportamento semelhante já foi observado no mar, entre cetáceos, mas não estou certo disso.
29 de Março de 2007 12:55
Miguel Madeira disse...
"basta recorrer às formigas para se ver exemplo semelhante"entre as formigas a guerra não costuma ser entre espécies diferentes (entre espécies esclavagistas e não esclavagistas)?"Também felinos têm tendência a ser agressivos contra outros grupos da mesma espécie. Em lobos, vemos frequentemente alcateias a disputarem entre si territórios"Bem , se animais solitários envovem-se em confronto com outros animais da mesma espécie, em pricipio é de esperar que, entre os animais sociais, vários bandos também se envolvam em confrontos.As grandes diferenças entre o homem e os outros animais parecem-me 2: por um lado, sabemos inventar armas, o que amplia a nosso poder mortifero; por outro lado, como somos mentalmente capazes de funcionar em sociedades organizadas de milhões de pessoas, isso aumenta o potencial de disputa territorial, já que passa a ser possivel manter e conquistar imperios (enquanto um bando de leões apenas procura conquistar um território que dê para para aí uns 20 individuos).Ou seja, como escreveu o Ricardo Alves, o "mal" humano é ter tanta cultura.
29 de Março de 2007 13:32
JSA disse...
Caro Miguel: Não conheço essa de formigas "esclavagistas" ou não. Todas elas são organizadas habitualmente em castas. Talvez seja isso a que te referes. Quanto às espécies diferentes de formigas, talvez sim, talvez os formigueiros não se ataquem se forem da mesma espécie (mas não arrisco dizê-lo).Claro que é normal que os animais sociais se envolvam em confrontos com outros grupos, mas foi precisamente esse aspecto que o Ricardo Alves contestou: o facto de os animais não o fazerem. Posso ter percebido mal, mas aquilo que entendi foi que, mesmo entre animais sociais, o grupo, enquanto tal, não se envolveria em confrontos com outros grupos. Foi essa noção que contestei.Em relação às duas diferenças que apresentas entre humanos e animais, estou plenamente de acordo com a primeira. A nossa capacidade inventiva é a nossa maior diferença, mas apenas a torna de escala, nada mais. Já a capacidade de funcionar em sociedades organizadas de muitos indivíduos não é um exclusivo nosso. Basta, mais uma vez, olhar para os insectos (formigas, também mais uma vez, como o exemplo máximo). A grande diferença é que o seu tamanho poderá eventualmente limitar essa interacção e eventuais "guerras" por território e recursos. Em todo o caso, o problema de escala é menor. Mesmo em grupos menores (recuemos às nossas idades da pedra e/ou do ferro) e vemos grupos de poucos indivíduos a lutar por territórios enormes (pouco nos diferenciando de felinos nesse aspecto).
29 de Março de 2007 13:56
Miguel Madeira disse...
«Caro Miguel: Não conheço essa de formigas "esclavagistas" ou não»As formigas vermelhas e as formigas amazonas capturam ovos e larvas de outras espécies de formigas e e criam-nas para trabalhar na colónia (as amazonas, nomeadamente, são incapazes de procurar alimento, precisando de "escravos").Agora, a pesquisar coisas sobre as guerras entre formigas a informação que obtive é um bocado ambivalente.Neste link, por um lado refere que as formigas têm guerras, tanto entre espécies, como dentro da mesma espécie, mas, ao mesmo tempo, refere que as principais batalhas de formigas que vemos são expedições de caça de escravos (o que parece indicar que a maior parte são guerra entre espécies)http://www.ndsu.nodak.edu/entomology/topics/societies.htm
29 de Março de 2007 16:35
JSA disse...
Obrigado Miguel, não tinha conhecimento que as formigas poderiam ser esclavagistas, apenas me lembrava de usarem as larvas de outras formigas para alimentação, mas é sempre bom saber. Seja como for, não somos os únicos. Feliz ou infelizmente, isso é que não sei.
29 de Março de 2007 16:44
Miguel Madeira disse...
A principal diferença que a capacidade de funcionar em larga escala introduz é que torna viável conquistar outras populações para as subjugar. Para um bando de leões, não faz sentido dispender energia a conquistar território maior do que eles podem utilizar para caçar.Para uma tribo humana já faz - em vez de caçarem/pastorearem/cultivarem eles prórpios no território conquistado, deixam lá os anteriores habitantes a caçar/pastorear/cultivar e a pagar tributos, enquanto eles se dedicam a novas conquistas (e é a capacidade de funcionar em larga escala - que, é verdade, partilhamos com alguns insectos - que torna possíveis este tipo de arranjos)
29 de Março de 2007 16:53
Miguel Madeira disse...
Já agora, um texto sobre o assunto (o autor é informático e não deve ter formação em biologia, mas as reflexões são interessantes):http://www.catb.org/~esr/writings/killer-myth.html
29 de Março de 2007 17:31
Anónimo disse...
E outro: http://www.edge.org/3rd_culture/pinker07/pinker07_index.html
29 de Março de 2007 17:43
ASilvestre disse...
Depois de ler o artigo da Prof. Palmira F. da Silva até parece que vivemos no melhor dos mundos e que a maldade humana foi uma invenção da religião para justificar existência de Deus.Uma provocação:a biologia tem dificuldade em reflectir sobre o mal pois tem a tendência para reduzir o homem a uma entidade biológica, e este seu determinismo exclui todo o mal na medida em que o homem limita-se fazer algo ditado pela evolução, pelos genes etc.Cumprimentos.
29 de Março de 2007 20:28
Cristina Melo disse...
...e, já agora, para melhor : nem na cultura somos únicos, uma vez que os chimpanzés possuem aquilo que antropologicamente é cultura de facto, tem tradições quanto a fabrico de instrumentos, que são observados em algumas comunidades e não noutras. Parece que até os pássaros têm dialectos locais ?Mais uma vez, Darwin tinha intuição quando referiu que é em grau que variamos de outras espécies.Uma observação interessante: talvez seja habitual ser referido por jornalístas que Jane Goodall foi a primeira a observar o fabrico de instrumentos ( que fazia parte da designação humana, única que fabricava instrumentos), não era afinal exclusividade humana, mas escreve Richard Dawkins, em "The Ancestor´s Tale" que Darwin tinha descrito o uso de de bigorna por chimpanzés para partir "nozes".
30 de Março de 2007 21:05
Cristina Melo disse...
... a ciência tem métodos, não pode apreender a realidade de uma só vez na sua totalidade, as ciências estão constituídas, mas uma coisa é certa: a ciência tem bases éticas e não é por não as ,nem por deixar de acreditar nas capacidades humanas para o conhecimento que felizmente a ciência deixa de existir.
30 de Março de 2007 21:14
Cristina Melo disse...
até agora acredito que o ser humano é de extremos, tanto é inacreditávelmente violento como altruísta, acho que é por ter um sistema nervoso muito complexificado, um pouco como diz Edgar Morin em Homo Demens, que compara essa complexificação a uma máquina: quanto mais complexa tanto quanto mais desordens poderá ter. Por sermos tão emotivos é que somos violentos /agressivos ?
30 de Março de 2007 21:22
Cristina Melo disse...
...e, já agora, será isto algo ao estilo de Rosseau, de Marx, do meu próprio : um aluno não é apenas um investimento do Estado, é uma pessoa com sentimentos que não devem ser alienados, e se a cultura não é para todos parte da natureza humana é porque nem todos deverão ter dinheiro para estudar e então, se a cultura é muito especificamente humana, privar seres humanos de cultura é alienar. Um aluno não deveria ser apenas uma preocupação técnica.Não adianta.
30 de Março de 2007 21:28
Cristina Melo disse...
Já agora, uma observação sistemática mostra que a guerra, cruel como tudo, sempre acompanhou a história humana. Acreditarmos mesmo assim na bondade humana já está mais relacionado com concepções filosóficas. Quaísquer que sejam os motivos para tal: a crueldade acompanha-nos há muito tempo, é dicifíl já não considerá-la parte da natureza humana ?Até nisso talvez os chimpanzés se assemelhem a nós, porque, como observou Jane Goodall, os chimpanzés são capazes de organizar "guerrilhas" entre grupos, ou seja fazer "guerra".A observação pura e simples é de facto constatar que temos uma natureza malévola, o inteligente será combatê-la ?Será como uma dialéctica de opostos?
2 de Abril de 2007 17:08
Numa terra lá distante disse...
Não sei se alguém vai ler isto............Quanto às fontes antes de Hobbes e Rousseau temos Tucídides, Ovídeo e Seneca.Quanto à violência inter-especifica aconselho :DENNEN, John Matheus Gerardus van der (1995) – The Origin of War: The Evolution of a Male Coalitional Reproductive Strategy. Groningen: Origin Press.Dennen refere 67 espécies que têm comportamento agonístico intraespecifico: das formigas, passando pelos suricatas até aos golfinhos, maior parte destas espécies são primatas, este comportamento agonístico é caracterizado por gestos e vocalizações, na tentativa de intimidar os adversários, temos confrontos campais e mortes deliberadas.
Vou colocar mais info no Blog Violência e Pré-História
Luis Lobato de Faria
30 de Abril de 2009 14:45

6 comments:

Manuel de Castro Nunes said...

Este comentário é-me imposto pela constatação de que, com esta intervenção e com os comentários que suscitou, o tema implementado por Luís Lobato de Faria atingiu o eixo em que faz cruzar múltiplas questões cruciais. Não vou ilustrar esta intervenção com dispensáveis remissões bibliográficas, porque parto do princípio de que as questões que vou colocar são, ao fim e ao cabo, do domínio da trivialidade.
E é exactamente deste ponto, do da trivialidade, seja, do ponto em que os resultados de uma actividade de investigação ou de procura do conhecimento se transfere para o domínio da sociabilização, ou porque ele próprio se sociabiliza e é socialmente partilhado e relevante, ou porque pode orientar práticas ou procedimentos qualificados, mesmo em áreas específicas, socialmente relevantes, que pretendo partir.
Parto então do princípio de que uma actividade de investigação só se valida socialmente quando se sociabiliza, quando se transfere para o domínio do trivial, seja pelo alcance da sua partilha, seja pelos resultados socialmente relevantes que da sua aplicação à vida advenham. E, mesmo assim, podem validar-se negativamente ou positivamente.
E é este o campo em que se pode equacionar a virtualidade de uma ciência ou de um conhecimento neutro. A ausência de um tal campo de juízo, ou de raciocínio, far-nos-ia atribuir um sinal positivo, indiscriminadamente, a toda a investigação que subjaz à invenção das mais mortíferas armas nucleares, ou a que teve como resultado outras hecatombes históricas.
E apresento as questões assim esboçadas, para suscitar reptos que nos levem mais adiante.
Ora, orientar a investigação do tema da violência e da guerra na pré-história, ou mais para a frente porque entrámos já por outras eras, para a mera conclusão, do domínio da etologia, que assume como insuperável o homem como espécie sujeita ao desígnio da sua animalidade, parece-me um sentido perverso.
Para lá disso é uma absurda contradição. Porque foram sempre sectores ideologicamente bem referenciados, comprometidos com uma ideologia liberal radical, os mais acérrimos defensores de uma ciência neutra, desvinculada de compromissos ideológicos. Seja, desvinculada de sentido social. O conhecimento e o seu desejo tornar-se-ia então num desígnio insuperável da espécie e nela ocorrente, da mesma substância e natureza que a violência.
Todavia, um outro tópico estruturante da ideologia liberal é o da mercadoria e do seu consumo, como estruturantes da emergência de todos os vínculos sociais. Ora, uma ciência ou um conhecimento que não se sociabilizam não se mercadorizam, não adquirem sentido social.
Qualquer outra referência para alegar a neutralidade da ciência e do conhecimento, não me parecem deixar de poder ser vistas senão como panaceias invocadas por aqueles que, por desintegração social e cultural, não conseguem encontrar um sentido para a sua diligência na procura do conhecimento, resultando então o anseio por ele numa manifestação do domínio da etologia. Tal tornar-se-ia numa perversão, quando tivéssemos que deduzir que a satisfação desse anseio resultava da comparticipação da comunidade e da sociedade. Seria como se tivéssemos que pagar um imposto de guerra.
Por ora, penso que coloquei já questões bastantes para complexificar mais a matéria, para cuja complexidade nunca é demais reclamar a atenção.
Ma resta-me ainda abordar, em estrato preliminar, um tópico. Vítor Oliveira Jorge tem razão quando coloca uma questão. O arqueólogo habituou-se a deduzir num ápice de vestígios ou de indícios, ou do que pensa que o sejam. Depois, com a sua autoridade num campo que lhe é exclusivo, transmite as suas deduções transdiscipinarmente. A partir de então nada mais há a fazer, porque a juzante todos os outros campos disciplinares que intervenham vão assumir essas deduções como dados adquiridos.

Manuel de Castro Nunes

Luis Lobato de Faria said...

Se há tema onde a Arqueolgia se pode fazer "útil" é no estudo da guerra. Só podemos eliminar a guerra na nossa sociedade se compreendermos o seu papel e a própria natureza do Homem.

A etologia é só mais um campo de estudo, nela encontramos violência inter específica (em várias espécies) que pode ser chamada de guerra. O Homem é um animal, e hoje um dos mais violentos contra a sua própria espécie (sem necessidade). Não me parece lógico que no passado, em tempos mais agrestes, não fosse dado a violências inter especificas.

Penso que as ciências sociais deviam de olhar mais para as ciências exactas. Quando analisamos as sociedades do passado temos que procurar hipóteses "lógicas", para problemas que encontramos ainda hoje em sociedades primitivas. Se temos uma pista que aponta para um comportamento temos uma percentagem reduzida deste ser relevante. Quando cruzamos mais pistas e todas apontam na direcção desse comportamento então a percentagem é muito mais alta (sempre uma percentagem). Existem muitas pistas de vários campos que apontam para uma guerra tão antiga como o Homem, na forma de Massacres e Raids, bastante frequente e com um grande impacto nas sociedades e sua evolução.

Guerra por Materialismo? Parece-me mais um reflexo redutor das lutas politicas do século passado. Vamos culpar os capitalistas pela guerra (e são culpados por muito do mal que nos aflige).
Simbolismo bélico? Uma leitura Kafkiana das sociedades pré-históricas claramente baseada nos simbolismos da vida universitária.
Preconceitos (os meus também), filosofias e ideologias à parte: a nossa sociedade baseia-se na violênciae na gueraa, temos que procurar as raizes, as funções, e principalmente temos que mudar.

Luis Lobto de Faria

Manuel de Castro Nunes said...

Caro Luis Lobato Faria.

Parece-me possível que tenha compreendido mal a minha intevenção, ou talvez eu não a tivesse estruturado de forma a ser mais explícita.
O que eu tento contrariar é justamente uma atitude fatalista face à natureza animal do homem e assumi-la como um desígnio inultrapassável pela cultura social. Se assim não fosse, para que estaríamos a aprofundar este tema? Para chorarmos?
Esse é o ponto de partida dos que defendem a neutralidade do conhecimento e da cultura, qual serpente que se devora a si mesma e nisso e satisfaz. Então o conhecimento seria abordável com os mesmos critérios com que abordamos a violência, no domínio e do ponto de vista da etologia.
É óbvio que a guerra e a violência não são criações do capitalismo, mas é a ideologia liberal capitalista que pretende assumir o seu registo como mera expressão do domínio etológico, para evitar fazer juízos de valor referidos a questões culturais, no quadro da pressuposta neutralidade do conhecimento.
Sobre a questão do simbólico e da forma como a arqueologia aborda o tema do simbólico, ainda desenvolverei vários comentários. Mas o sombólico não pode servir de pretexto para que não transitemos para outros domínios da expressão e função social da violência.
Como é óbvio também, a violência eclode em vários domínios do quotidiano e das inter-relações, alterando a sua aparência, mas alterando também a sua função (termo inadequado) social.
E talvez o aspecto mais complexo da questão rside na análise do contexto em que a violência se estrutura socialmente e se transforma em guerra, no sentido político da acepção.
Penso em breve estruturar mais detalhadamente esta linha de raciocínio.
Mas note que, se o nosso objectivo é transformar a abordagem deste tema num contributo, mesmo que utópico, também são lgítimas as utopias, para eliminar a guerra, temos que superar a circunscrição ideológica do tema da neutralidade do conhecimento e da corrente antropobiológica que assume o homem circunscrito a uma etologia de raiz quase biológica.

Luis Lobato de Faria said...

Às vezes chorar faz bem......e serpentes estão sempre associadas ao infinito.
O problema é que a violência faz parte do Homem (e principalmente do homem), basta ver uma qualquer brincadeira de rapazitos.
A violência, como podemos ver pelo mundo animal, é anterior ao conhecimento, é um instinto de sobrevivência.
A ideologia liberal capitalista usa várias desculpas para as suas guerras: luta pela civilização (WW1), luta pela liberdade, missões de paz (esta é especilmente interessante, até dá vontade de rir se não fosse tão triste),...... Hobbes nem sequer foi original, já na antiguidade as discussões eram as mesmas.
Quanto à neutralidade da ciência (parece ser um tema que lhe interessa especialmente) é, a meu ver, uma questão de honestidade do investigador, utopias à parte (e óbvias subjectividades), eu tento ser neutro (mas claro que não sou), mas tenho que tentar, é tudo relativo (sou budista mas não quero atingir o nirvana).
Agora no blog temos vários pontos de vista e cruzando variáveis encontramos uma forte probabilidade de a guerra ser tão antiga como o Homem.
A ideia do homem ser um animal violento não implica que não possa evitar a expressão máxima dessa violência, a guerra (e fá-lo pelo duelo, pelo desporto e até na forma de guerra da batalha campal).
Os chamados determinismos não justificam nem adiantam nada, a chamada neutralidade da ciência idem e por ai adiante. Precisamos de discutir as pistas da Pré-História recolhidas pela Arqueologia. Os trabalhos da Antropologia Social, da Etologia, da Psicologia, da Sociologia,.....e cruzar ideais e dados.
É mais importante perceber as funções da guerra, sempre simbólica (um tema a desenvolver) mas efectivamente mortifera e tendo a economia como uma das funções mas não a única.
Este tema é mais do que uma maneira da Arqueologia justificar o seu papel na sociedade, é uma obrigação.
A Iberia tem das pistas mais gritantes e no entanto tem poucas vozes.
È uma questão de tempo até o Homem auto destruir-se levando o planeta com ele.
Podemos evitar?

Luis Lobato de Faria

Manuel de Castro Nunes said...

Caro Luis Lobato Faria.

Parece-me que estamos dizer a mesma coisa partindo de formas de expressão distintas. Embora não concordemos porventura sobre questões aparentemente mais relevantes do que parecem.
Tenho acerteza de que não demorará muito até que encontremos o ponto onde as perspectivas de cruzam.
A questão da neutralidad do conhecimento não foi invocada em referência ao seu discurso, mas a alguns comentários. Expressa a sua motivação, o seu conhecimento e a sua procura dele só podem ser neutros numa dimensão retórica.

Manuel

Manuel de Castro Nunes said...

Corrijo, relativamente à mensagem anterior. Queria escrever: sobre questões menos relevantes do que parecem.

Manuel