por Luis Lobato de Faria
“… Parte da ciência da guerra que trata da disposição de meios … em campanha; técnica de combate…” (Dicionário da Língua Portuguesa, 1998).
“… Parte da ciência da guerra que trata da disposição de meios … em campanha; técnica de combate…” (Dicionário da Língua Portuguesa, 1998).
As primeiras tácticas devem ter sido desenvolvidas na caça, o Homem enquanto predador tenta enganar a presa, segundo Otterbein (2004, p. 13) acerca da caça no Mesolítico: “More people were competing for the game with better weapons and hunting tactics.”.
As tácticas não são um exclusivo do homem, estão presentes em todas as espécies que necessitam de competir para sobreviver.
Na violência entre grupos de chimpanzés existem várias tácticas, como patrulhas na fronteira do território ou raids no território inimigo na tentativa de atacar um inimigo isolado (Wrangham, 1999, p. 5-11).
As formas de guerra primitiva têm as suas próprias tácticas, como podemos observar nesta descrição de um massacre entre os Inuit: “…approaching a settlement on hands and knees under cover of darkness…to try and eliminate everyone in the village one by one…”(Burch apud Leblanc e Register, 2004, p. 67).
Para Wright (1964) e acerca das tácticas da guerra primitiva: “…tactics involve little group formation or cooperation but consists on night raids, individual duels in formal pitched battles, or small headhunting or blood-revenge parties”.
Turney-Hight apud Keeley (1997, p. 13), distingue guerra civilizada (dos estados) de guerra primitiva (restantes tipos de sociedades), este autor reconhece que a segunda tem algumas vantagens tácticas: na mobilidade, na surpresa, na utilização do terreno, no uso de guias e da informação.
A existência de tácticas na guerra primitiva, a tentativa de enganar o inimigo, de fugir às regras e leis, de evitar o ritual, demonstra o quanto efectiva e letal pode ser a guerra primitiva.
O nível táctico da guerra primitiva parece evoluir com a evolução do tipo de sociedade, na Polinésia e Costa Noroeste do Pacifico, alguns chefados, têm formações de combate e mesmo algum treino (Keeley, 1997, p. 43).
Ao longo da história as tácticas ajudaram na formação de Estados e Impérios, por exemplo o Império Zulu nasceu com a ajuda de novas tácticas de combate (Otterbein, 1997, p. 25-32). Alguns povos são conhecidos pelas suas tácticas de guerra, como os Mongóis (Keegan, 1994, p. 200-207).
O nome do próprio povo por vezes deriva das tácticas usadas na guerra.
O registo arqueológico mais antigo de tácticas usadas em combate encontra-se na Península Ibérica na Arte Rupestre Levantina, as gravuras mostram diversas movimentações no campo de batalha, como por exemplo ataques de flanco (Mateo Saura, 2000, p. 113 e 116).
No caso das fortificações temos várias adaptações técnico \ tácticas: como o uso de múltiplas cinturas de muralhas, bastiões que protegem as muralhas, defesas contra armas de cerco, contra ataques de cavalaria, aparecimento de seteiras, entre outras.
Randsborg (2004, p. 191-202) baseia-se nos achados de Hjortspring na actual Dinamarca, onde foi encontrado um barco e armas, sacrificados no final da Idade do Bronze. Este autor teoriza que houve uma mudança táctica na guerra, passamos a ter uma confrontação de falanges em campo aberto, que leva a confrontos de exércitos maiores e aumenta o número de baixas.
Referências
Dicionário da Língua Portuguesa (1998). Porto: Porto Editora.
KEEGAN, John (1994) – A history of warfare. London: Pimlico.
KEELEY, Lawrence (1997) - War before civilization: The myth of thepeaceful savage. Oxford: Oxford University Press.
LEBLANC, Steven A.; REGISTER, Katherine E. (2004) – Constant battles: the myth of the peaceful, noble savage. New York: St. Martin’s Griffin.
MATEO SAURA (2000) – La Guerra en la Vida de las Comunidades Epipaleolíticas del Mediterráneo Peninsular. Era- Arqueologia. Lisboa: Colibri 2, p. 110- 127.
OTTERBEIN, Keith F. (1999) – A History of Research on Warfare in Anthropology. American Anthropologist. 101: 4, p. 794-805.
OTTERBEIN, Keith F. (2004) – How war began. College Station: Texas A&M University Press.
RANDSBORG, Klavs (2004) – Into he Iron Age: a discourse on war and society. In CARMAN, John; HARDING, Anthony; eds – Ancient warfare. Gloucestershire: Sutton Publishing
WRANGHAM, richard (1999) – Evolution of coalitionary killing. Yearbook of Physical Anthropology. 42, p. 1-30.
WRIGHT, Q. (1964 [1942]) – A Study of War. Chicago: University of Chicago Press.
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